quinta-feira, 7 de março de 2019

"Os pés da minha amada que não se cansam de caminhar" - Casimiro de Brito

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Os pés da minha amada que não se cansam de caminhar

Tudo em volta se me oferece
como se noiva fosse. Os meus sentidos
concentram-se no mínimo, no brilho
do grão de pó se me debruço
para salvar da morte solar
um bicho, um mosquito, por exemplo,
sabendo embora
que nada se salva neste mundo
em rotação. E até o pobre insecto
me povoa
como se fosse um filho
ou uma noiva. Ergo-me. Amar
melhor não sei, sabendo embora
que tudo é ínfimo, o bicho, o grão
de areia, a sua
desmedida idade. Cair bem queria
e começar de novo. Mas os cumes
levantam-se
eufóricos se levantam
quando a vida e a morte se confundem
(e sempre se confundem)
sob os pés da minha amada
que não se cansam
de caminhar.


Casimiro de Brito

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