Do “LIVRO DE EROS” - Casimiro de Brito
Do “LIVRO
DE EROS”
693
Tão breve a noite quando nos amamos.
Quando nos lemos um ao outro. Ou quando,
um no outro, escrevemos.
694
A mulher, embora queiram fazer dela um jardim, é uma floresta que não pertence
a ninguém. Res nullius. E o seu sexo, embora o queiram preencher em cada
momento, é para sempre um locus neminis, um lugar de ninguém. De passagem, sim:
passei por lá quando nasci e ficaram saudades, e por isso regresso sempre que
posso. Afável, acolhe-me; outras vezes fecha-se ou morde e não me deixa morrer
no paraíso. Que bom saber tão pouco dos seus mistério e viver à sombra desta
delicada ignorância! E porque não sei, e porque não aprendi e não me podem
ensinar, vou sempre regressando em busca desse graal infinitamente perdido em
lugares inóspitos e outras vezes amenos: na delicada floresta.
695
Quando digo sexo quero dizer amor:
pois ambos são fruto de um casamento secreto
entre o sol e as sombras.
Casimiro
de Brito
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