"O amor e o mar" - Eduardo Chirinos
O amor e o mar
Contemplar o mar é contemplar uma longuíssima censura,
umedecer os olhos com palavras que o tempo não destrua
e dispor-se a suportar o peso amargo dos anos.
Ouvir o mar é ouvir uma antiquíssima linguagem.
A sua espuma é a vertigem, a vã transparência
que enlouquece de amor os amantes.
Deste-me os olhos para ver a transparência
porque o mar é também uma longuíssima carícia.
Soube-o em prolongadas tardes de silêncio e dilacerante abandono,
tardes em que o amor e a solidão não eram apenas duas palavras
mas sim uma vasta paisagem que só admitia a tua presença.
Para chegar a ti tropecei muitas vezes.
Noites inteiras contando um a um os teus cabelos,
beijando com devoção a ponta dos pés, imaginando
o teu rosto no rosto de todas as mulheres, a tua voz
em centenas de bocas e lábios inúteis.
A tua voz é a voz do mar, a voz que me chama de dentro
com o seu abismo e as profundidades
com os seus peixes e as suas ondas e as suas ilhas desertas.
É o teu corpo
o que me chama e me redime do erro.
Para chegar a ti tropecei muitas vezes.
noites inteiras a pronunciar um nome, e era o teu.
Noites inteiras a acariciar um corpo, e era o teu.
Anos e anos a arrancar com paciência as penas de uma ave
para caminhar sem rumo até uma porta
sem saber que tu eras essa porta.
O antigo silêncio que ainda me fala entre as ondas.
Eduardo Chirinos
umedecer os olhos com palavras que o tempo não destrua
e dispor-se a suportar o peso amargo dos anos.
Ouvir o mar é ouvir uma antiquíssima linguagem.
A sua espuma é a vertigem, a vã transparência
que enlouquece de amor os amantes.
Deste-me os olhos para ver a transparência
porque o mar é também uma longuíssima carícia.
Soube-o em prolongadas tardes de silêncio e dilacerante abandono,
tardes em que o amor e a solidão não eram apenas duas palavras
mas sim uma vasta paisagem que só admitia a tua presença.
Para chegar a ti tropecei muitas vezes.
Noites inteiras contando um a um os teus cabelos,
beijando com devoção a ponta dos pés, imaginando
o teu rosto no rosto de todas as mulheres, a tua voz
em centenas de bocas e lábios inúteis.
A tua voz é a voz do mar, a voz que me chama de dentro
com o seu abismo e as profundidades
com os seus peixes e as suas ondas e as suas ilhas desertas.
É o teu corpo
o que me chama e me redime do erro.
Para chegar a ti tropecei muitas vezes.
noites inteiras a pronunciar um nome, e era o teu.
Noites inteiras a acariciar um corpo, e era o teu.
Anos e anos a arrancar com paciência as penas de uma ave
para caminhar sem rumo até uma porta
sem saber que tu eras essa porta.
O antigo silêncio que ainda me fala entre as ondas.
Eduardo Chirinos
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