Mangueira 2019: a noite em que o Carnaval mudou a História
1. Este Carnaval carioca foi a contra-eleição de Bolsonaro, o avesso onde a luta se encontra, nas ruas como no sambódromo. Mas o que desfilou com a Mangueira na noite de segunda para terça foram 500 anos de contra-história. Uma contra-história que se estende a Portugal, avesso dos manuais. Então, se a Mangueira desfilou por um Brasil índio, negro, pobre, de “mulheres, tamoios, mulatos”, que o ex-colonizador encare também o que ficou “atrás do herói emoldurado”, como diz o samba-enredo. Portuguesa, nascida na capital de onde partiram as naus, entrei no sambódromo para cantar em coro esse samba, com tudo o que nele é também meu. Éramos 3500 na pista, milhares nas bancadas, milhões mais além, e cantamos juntos por 500 anos. Há tanto tempo que a gente pergunta quando o morro vai descer. Pois nessa noite o morro desceu para a História.
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Seguiremos em luta ate que todas sejamos livres da
exploração, da opressão e da violência
08/03/2019
Uma
alegria enorme estar aqui nesta praça com tantas mulheres e homens de luta. E é
muito bom saber que não estamos sós.
Estou
aqui hoje representando um coletivo de grupos, movimentos sociais e mulheres
independentes que desde dezembro iniciou a organização do 8 de marco, fazendo
encontros por toda a região metropolitana. O carnaval foi também um lindo
instante de manifestações feministas. Este ato é a convergência destas
iniciativas.
Vivemos um momento histórico
desafiador. Momento em que a crise econômica, política, social, ética,
ambiental que já vem de alguns anos e que agora, adquire uma nova conotação: de
ódio as diferenças. Bolsonaro, pela sua história e pela sua retorica, é a
expressão da crueldade contra as mulheres, os negros, os pobres, as periferias,
os indígenas, os movimentos LGBTI+. Representa o fortalecimento de uma nova
direita, que é contra os direitos civis, a diversidade social e a pluralidade
cultural. Vendo essa onda retrógrada e machista que está rolando temos a
clareza de que foi o nosso avanço e a nossa autonomia que ameaçam e faz com que
queiram a todo custo nos fazer retroceder. Mas não seremos intimidadas. Desde
as eleições pairavam estas ameaças e empunhamos o #Elenao, denunciando o ódio e
exigindo respeito e direitos iguais. Foi um calor humano intenso que fortaleceu
a todas nos.
As
mulheres mineiras também convivem com o horror que foi o crime da Vale, que se
seguiu ao da Samarco. As centenas de mortos, de pessoas desabrigadas, a todo o
povo atingidos pela lama, as vidas destruídas das populações indígenas,
pescadoras, dos quilombolas, produtoras rurais familiares que viviam do Rio,
não será em vão. O povo mineiro não vai se esquecer. Hoje tem uma consciência
generalizada que as barragens são letais. E que as elites políticas e econômica
não tem nenhum compromisso com a vida. Mas nós temos. Por isto, estamos hoje
dizendo que “nossas vidas valem mais”. Valem mais do que o lucro da vale, do
que os ganhos exorbitantes do sistema financeiro, do que a especulação
imobiliária. E q. a mineração mata água, mata rio, mata gente.
Quem
somos nós? Somos mulheres e diversas. Somos feministas. Somos força poderosa de
mudança. Somos mães que choram seus filhos violentados e mortos. Somos aquelas
que trabalham dentro de casa e não são reconhecidas. Que trabalham fora e
recebem salários menores. Que fazemos as lutas. Temos assim a tripla jornada de
trabalho. Somos aquelas que lutam por autonomia. E isto é ameaçador e a reação
e violenta.
Nos
mulheres sabemos o que é a violência em nosso cotidiano. Violência que vai ser
ainda maior sobre as mulheres negras, indígenas, trans, periféricas. Em Minas,
o aumento do feminicídio, e assustador. Por isto, nada mais
significativo do que empunhar a bandeira da Marielle. Mulher negra, lésbica,
periférica, socialista, e vereadora. Que ousou ser livre. Que com um mandato
voltado para o social, incomodava e foi assassinada. Até hoje, passado um ano:
ainda queremos saber: Quem mandou matar Marielle? Queremos justiça para
Marielle e para todas as mulheres. Fazemos aqui uma saudação a Mangueira que
fez do carnaval o que ele deve ser: o espaço da alegria, da beleza e da
denúncia. E saudamos também o carnaval de BH e a todos os blocos feministas que
encantaram o carnaval e estão aqui conosco.
A
violência acaba sendo amplificada devido a profunda crise que vivemos e as respostas
das elites políticas e econômicas: mais cortes para o social. Assim, áreas que
já são precárias como a saúde, educação, moradia são ainda mais atingidas. Mas
não satisfeito, o governo vai mostrar a violência e o desprezo para com o povo
brasileiro, com a proposta da reforma da previdência em tramitação no
congresso. Reforma que destrói os poucos direitos sociais e previdenciários
conquistado ao longo de anos de luta. E as mulheres são as mais atingidas já
que somos a maioria entre as pessoas desempregadas, somos as que ocupam os
empregos precários e informais, sem carteira assinada, sob dupla e tripla
jornada, com uma situação de total de instabilidade. Nestas condições, como
contribuir por 40 anos já que entramos e saímos do mercado de trabalho? Temos
de ter claro que a aposentadoria e um direito que temos ao sustentar a economia
com o nosso trabalho. Por isso a previdência social tem de ser publica,
universal e solidaria.
Por
todas estas lutas históricas e atuais, nos juntamos. Não há outro caminho
possível. Tem de ficar claro que não preparamos apenas um ato, um 8 de Março.
Estamos unindo os diversos movimentos e grupos para um processo de resistência
unificado, que deve seguir com o 14M quando faz 1 ano do assassinato de
Marielle e Anderson.
Vamos
também desenvolver um trabalho intenso com as e os parlamentares no “vira-voto”
da reforma da Previdência.
Lutamos e nos unimos para salvar nossa flora, fauna, água e o ar. Para salvar as terras indígenas e quilombolas que apesar da
violência genocida histórica, nunca renunciaram a preservar o território e a
cultura de seu povo.
Lutamos
e nos unimos pela liberdade das negras, que moldaram a natureza deste país. Nós
não podemos esquecer que vidas negras importam. E que este é um país ancorado
na escravidão e no colonialismo.
Temos
de estar juntas para fazer o enfrentamento às políticas neoliberais de retirada
de direitos e conquistas e não permitir mais nenhum retrocesso!
Reconhecemos
e honramos nossa história. Sabemos que temos muitas batalhas pela frente e que
não nos dispersaremos.
Quero terminar com uma frase da Rosa Luxemburgo: "Por um Mundo onde
sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres".
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