sábado, 28 de maio de 2011

Diversidade Etnocultural na Escola

 



A discriminação é promovida e reforçada na educação escolar de diversas formas. As condições salariais, a desvalorização do professor, a pouca atenção que muitos governos vêm dando à escola pública são alguns dos factores que fazem com que o próprio educador acabe, sem perceber, reproduzindo e reforçando a discriminação e o preconceito, os quais geram a violência.

Por: José de Sousa Miguel Lopes

 

 

A problemática da cultura está hoje no centro das atenções dos sistemas educacionais verdadeiramente comprometidos com a formação dos educadores e de profissionais de diversas áreas, para o século XXI. Nenhum deles pode ignorar as difíceis questões do multiculturalismo, das diferenças de raça, género, etnia, sexuais, religiosas, de linguagem, de região, da ética. Essas questões exercem um papel importante na definição do significado e do propósito da escolarização, no que significa ensinar e na forma como os estudantes devem ser formados para viver em um mundo que será amplamente globalizado, com alta tecnologia e racialmente diverso que em qualquer outra época na história.
Face a este quadro, parece-nos importante produzir uma nova rede de relações sociais e redescobrir o significado da educação formal, no seu valor prático, para todos os grupos sociais e não apenas para alguns privilegiados. Parece-nos igualmente importante, tentar devolver à educação o seu valor como uma agência mediadora para que através dela se revalorizem as varias culturas étnicas.
A discriminação e o preconceito reproduzidos em salas de aula por muitos professores assustam num primeiro momento, mas revelam como o desrespeito pela diversidade humana está inserido no sistema. O professor reproduz muitas vezes ideias e conceitos que vêm dos modelos institucionais e que promovem a discriminação social, racial, étnica, religiosa, cultural.
A discriminação é promovida e reforçada na educação escolar de diversas formas. As condições salariais, a desvalorização do professor, a pouca atenção que muitos governos vêm dando à escola pública são alguns dos factores que fazem com que o próprio educador acabe, sem perceber, reproduzindo e reforçando a discriminação e o preconceito, os quais geram a violência.
Ao fornecer ao aluno os meios de submeter a um exame crítico as crenças próprias de sua cultura e de fazer evoluir sua representação do mundo, estaremos provavelmente propiciando-lhe uma ampliação de suas perspectivas.
As escolas, como instituições de socialização têm como tarefa expandir as capacidades humanas, favorecer análises e processos de reflexão em comum da realidade, desenvolver nos alunos procedimentos e habilidades imprescindíveis para sua atuação responsável, crítica, democrática e solidária na sociedade.
Essas sensibilidades e capacidades devem ser capazes de realizar análise críticas, por exemplo, aos materiais didácticos utilizados em sala de aula e que com frequência são veículos por excelência de todo o tipo de preconceitos que levam à e discriminação e até á violência.
Os recursos didácticos devem ser acompanhados de propostas inovadoras de materiais escolares interculturais que possam servir de suporte para a elaboração de actividades, dado que uma das dificuldades manifestadas pelos professores para desenvolver temas transversais nas suas escolas se deve à falta de materiais alternativos ao clássico livro didáctico. A formação docente exige uma revisão dos materiais utilizados por cada professor e daqueles já publicados que possam ser incorporados ao currículo escolar, quer sejam: livros de contos, canções de autores contemporâneos sobre temas de racismo e multiculturalismo, álbuns de fotografias, vídeos educativos, actividades sugeridas pelos colectivos a resolução de conflitos de forma educativa, ou estratégias de educação moral e ensino de valores.
Estes materiais devem ser analisados criticamente pelos docentes, como ponto de referência para a elaboração de novas actividades interculturais. Eles possibilitarão também um debate interessante sobre a disponibilidade de materiais transversais, bem como das dificuldades de criação de materiais didácticos adequados às atuais condições de trabalho do colectivo dos docentes.
Em suma, a instituição educacional precisa constituir-se em uma instância de promoção de auto-reflexão e do desenvolvimento de sensibilidades e das capacidades intelectuais e operativas, embasadas em valores éticos necessários á formação de profissionais comprometidos com a construção de sociedades mais solidárias.

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