sábado, 1 de novembro de 2025

"Modinha do empregado de banco" - ​​​​​​​Murilo Mendes

 



Modinha do empregado de banco



Eu sou triste como um prático de farmácia,


sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.


Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher


mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.



Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.


Quantas meninas pela vida afora!


E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.


Se eu tivesse estes contos punha a andar


a roda da imaginação nos caminhos do mundo.


E os fregueses do Banco


que não fazem nada com estes contos!


Chocam outros contos para não fazerem nada com eles.



Também se o diretor tivesse a minha imaginação


o Banco já não existiria mais


e eu estaria noutro lugar.




Murilo Mendes

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