sábado, 15 de fevereiro de 2025

"Água Benta" - Albano Sales & Wolf Borges

 



Água Benta*
 


Água que lava o sangue

Que seca sobre as calçadas

Lava das Candelárias

Prantos por tantas ruas nuas



Água que tanto se suja

É a mesma que secou em nós

Volta a regar de novo

Molha as cordas da minha voz



Água que nos trouxe a vida,

Vida que esquecemos tanto de viver

Lava a alma com o teu perdão

Submete ao teu poder



Água que tanto se suja

É a água que secou em nós

Volta a regar de novo

Molha as cordas da minha voz



Água que o mal represa, nega

Empossado se apropria, adia

Água que tanto se despreza

Mostra a força neste dia.


 
Água que o céu despeja, seja

Água que o chão devora agora

Dor que Maria chora e ora

Mata essa sede enfim



Água doce, água benta

Água viva traz o "sim"

Mar de ondas traz a essência

Pelas veias flui em mim




Albano Sales & Wolf Borges

 

*Este poema inspirou-se na terrível chacina da Candelária, como ficou conhecido o episódio, Ocorreu na noite de 23 de julho de 1993,em frente à Igreja da Candelária, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro. Nesse crime, oito jovens foram assassinados. Pouco antes da meia-noite, um táxi e um Chevette com placas cobertas pararam em frente à Igreja da Candelária. Em seguida, os ocupantes atiraram contra dezenas de pessoas, a maioria adolescentes, que estavam dormindo nas proximidades da Igreja. Posteriormente, nas investigações, descobriu-se que os autores dos disparos eram milicianos, que usavam a praça em torno da igreja como ponto de venda de drogas.

0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP