"O que é para ti “a mulher”, perguntam-me. e limito-me a copiar o que sobre “mulher” existe no meu “dicionário pessoal”: tenho 102 citações mas vou resumi-las para 30" - Casimiro de Brito
Abre-se e canta, silenciosa quase.
Afundo-me na mulher que em mim se afunda.
A mais real de todas é essa que imaginei.
A mulher está cheia do chamado vigor masculino.
Ao princípio era a mulher mas como foi feita?
Aproxima-se. Um olhar, um corpo, um sexo. Engole-me.
Basta-me ver a sua mão para imaginar todo o seu corpo.
Caio no teu mel e no teu sal caio.
Concha cantabile.
Ela arde e aquece-me com a sua madeira mais íntima.
Ela passa, subitamente, da maior amiga à maior inimiga.
Em cada mulher há uma Vénus e uma Xantipa.
Fonte e ponte do regresso à natureza.
Garra minuciosa com pezinhos de lã.
Gosto mais da mulher que se multiplica do que dessa que se divide.
Jamais saberei amar a mulher que sempre amei.
Mulher me sinto de tanto a ter visitado.
Nem todas as estátuas são de mármore, de madeira.
O mais belo país que visitei.
O mais musical dos instrumentos.
O mel (tantas vezes venenoso) de que mais gosto.
Outra és, mulher, mas nunca deixarás de ser a mãe.
Poderá o chão deitar-se no chão?
Quando a mulher se afasta o frio aproxima-se.
Seguindo na via do teu perfume encontro o teu sangue.
Também ela, enquanto objecto, deseja um objecto.
Uma ferida nem sempre amável.
Um caminho, uma viagem para a luz.
Um continente para sempre obscuro.
Um rio: nascente e foz ao mesmo tempo.
Casimiro de Brito
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