quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Da indicação ao telefonema final, conheça os bastidores da escolha de um Nobel


Da indicação ao telefonema final, conheça os bastidores da escolha de um Nobel

Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt

20/10/2015

Em meio à toda a agitação em torno dos anúncios do Prêmio Nobel no início de outubro, você já se viu perguntando como alguém de fato conquista uma dessas coisas?
Nós já.


Neste ano, o Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia recebeu o prestigiado Nobel da Paz pelo seu trabalho de promoção da democracia; Takaaki Kajita, do Japão, e Arthur McDonald, do Canadá, conquistaram o Nobel de Física por sua pesquisa de neutrinos; e a jornalista bielo-russa Svetlana Alexievich conquistou o Nobel de Literatura.


Como essas decisões são tomadas? Para descobrir, neste ano Stephen Dubner conversou com Per Stromberg, um professor de finanças da Escola de Economia de Estocolmo e um dos seis membros primários do Comitê do Prêmio de Ciências Econômicas da Academia Real de Ciências da Suécia.

Por questão de simplicidade, vamos nos concentrar no prêmio de Economia, no qual Stromberg esteve envolvido. Neste ano, ele foi para Angus Deaton –um professor escocês de Princeton– por seus estudos profundos do comportamento do consumidor.
A primeira coisa que é preciso saber é que o prêmio de Economia não é de fato um dos Prêmios Nobel originais. Os prêmios para literatura, física, química, medicina e promoção da paz foram criados depois que o sueco Alfred Nobel morreu um homem muito rico em 1896. O Nobel de Economia foi criado em 1968 pelo Banco Central Sueco, daí seu nome completo: Prêmio do Banco da Suécia de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel. Mas para todos os fins práticos, o prêmio de economia ainda é um Prêmio Nobel e de igual prestígio.
A segunda coisa que se deve saber é que o processo de indicação é muito complexo e altamente sigiloso. Felizmente, conseguimos convencer Stromberg a nos dar informações privilegiadas (ou pelo menos o máximo que podia legalmente).
O principal trabalho do comitê de economia é propor um candidato, ou um grupo de candidatos que compartilharia o Nobel, à academia composta por 615 membros, que então tem a palavra final sobre o ganhador. Para chegar a uma lista inicial de 250 a 350 nomes, o comitê envia os formulários de indicação a cerca de 3 mil pessoas –professores renomados, ganhadores do Nobel, membros da academia. Muitos escrevem breves relatórios detalhando por que o trabalho de um certo economista (ou cientista político ou psicólogo) merece o grande prêmio. (É preciso notar que todos os indicados precisam estar vivos para serem indicados.)
Todos esses relatórios, juntamente com as deliberações internas do comitê do prêmio, são mantidos em sigilo por 50 anos. Esse foi o motivo para termos descoberto que quando C.S. Lewis indicou J.R.R. Tolkien para um Nobel em 1961, ele foi rejeitado porque sua obra não representava "narrativa da mais alta qualidade".
Os relatórios de indicação ajudam o comitê a descobrir pesquisa inovadora sendo feita dentro do campo da economia. (O comitê recompensa a melhor pesquisa, não necessariamente os melhores economistas.) "Vejo nosso trabalho como basicamente o de agregar a voz da profissão", disse Stromberg para Dubner. "Não se trata de nossos pontos de vista sobre o que pensamos ser importante ou não; nós realmente tentamos ter uma ideia de aprovação, dos maiores pesquisadores nesses campos, de que é nisso que acreditam."
Solicitados em setembro, os relatórios deverão chegar ao comitê no final de janeiro. Neste ano, Stromberg e sua equipe passaram todos os meses até junho, que foi quando ele conversou com Dubner, talhando as 12 principais ideias até chegar a um corpo de trabalho digno do Nobel –um processo que Stromberg descreve como "um pouquinho como um 'reality show'".
Antes do comitê de Stromberg apresentar suas recomendações finais à Academia Real de Ciências da Suécia em outubro, ele precisa obter a aprovação de uma divisão especial de ciências sociais dentro da academia. Assim que o comitê obtém o apoio da divisão, a votação pela academia passa a ser em grande parte uma formalidade.
Para Stromberg, um dos momentos mais gratificantes de todo o processo é o primeiro telefonema para o ganhador afortunado. Mas isso vem acompanhado com algumas poucas medidas de precaução.
Al Roth, o economista de Stanford, recebeu um desses telefonemas –ele e Lloyd Shapley, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, dividiram um Nobel em 2012. Como Roth disse a Dubner, a coisa toda foi um pouco estranha (e também altamente empolgante). "É um telefonema interessante, porque uma das coisas com que (o comitê do Nobel) se preocupa –e eles têm muita experiência nisso– é convencer você de que não se trata de uma peça. Assim, a primeira pessoa com quem falei me disse: 'Parabéns. Você ganhou um Prêmio Nobel'. E então ele disse: 'E estou aqui com seis de meus colegas e dois deles conhecem você e conversarão com você agora'."
Deaton disse aos presentes em uma coletiva de imprensa que o comitê também lhe assegurou que não se tratava de uma peça quando lhe telefonou: "E, é claro, assim que disseram isso, eu pensei, 'Meu Deus, talvez seja uma peça'".
Esses telefonemas podem mudar a vida dos ganhadores. Mas Stromberg não se deixa levar pelo poder que sua posição lhe confere. Para ele, tudo se restringe ao processo: "Não sei se isto faz algum sentido para você", ele disse a Dubner, "mas no final não parece que você tem tanto poder, porque o processo é muito meticuloso".
FONTE: Aqui

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