terça-feira, 25 de outubro de 2022

"Aqui te amo..." - Pablo Neruda

 




Aqui te amo...

 

 

 



Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.


Fosforesce a lua sobre as águas errantes.


Andam dias iguais a perseguir-se.





Define-se a névoa em dançantes figuras.


Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.


As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.





Ou a cruz negra de um barco.


Só.


As vezes amanheço, e minha alma está úmida.


Soa, ressoa o mar distante.


Isto é um porto.


Aqui eu te amo.





Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.


Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.


As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,


que correm pelo mar rumo a onde não chegam.





Já me creio esquecido como estas velha âncoras.


São mais tristes os portos ao atracar da tarde.


Cansa-se minha vida inutilmente faminta.


Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.





Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.


Mas a noite enche e começa a cantar-me.


A lua faz girar sua arruela de sonho.





Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.


E como eu te amo, os pinheiros no vento,


querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.


Aqui te amo.

 

 

 



Pablo Neruda



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