domingo, 31 de julho de 2022

"Mar português" - Fernando Pessoa

 




Mar português

 

 



Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!


Por te cruzarmos, quantas mães choraram,


Quantos filhos em vão rezaram!


Quantas noivas ficaram por casar


Para que fosses nosso, ó mar!



 

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.


Quem quer passar além do Bojador


Tem que passar além da dor.


Deus ao mar o perigo e o abismo deu,


Mas nele é que espelhou o céu.

 

 

 



Fernando Pessoa


Uma hora ele não assinará mais decretos

 





Para o presidente uma caneta vale menos que uma arma. Para ler o texto de Eugênio Bucci clique aqui


Leia "Janio de Freitas: Bolsonaro apela ao golpismo diante da derrota que se anuncia" clicando aqui


Leia "Luiz Werneck Vianna: Completar a obra da redemocratização" clicando aqui

O estranho caso da União Europeia: suicídio, assassinato ou eutanásia? Parte I

 





A única hipótese para os países da UE é acabarem com as estúpidas sanções e estabelecerem uma colaboração mutuamente vantajosa – à margem dos interesses das transnacionais – com ao que se designa bloco Euroasiático, Caso contrário, resta-lhe permanecer como apêndice transatlântico dos EUA. Porque estes têm capacidade de sobreviver entre vicissitudes graças às suas matérias primas e poder militar. Para ler o texto de Daniel Vaz de Carvalho clique aqui


Leia "Alastair Crooke: A Guerra na Ucrânia - para lá dela - "Ilusões de Superioridade. O que se segue?" clicando aqui


Leia "Andrew Korybko: Os mortos não contam histórias: Porque é que Kiev bombardeou os seus próprios soldados presos no Donbass" clicando aqui


Leia "Maria G. Zornoza: África torna-se o epicentro da batalha pela história entre a UE e a Rússia no prelúdio de uma grande crise humanitária" clicando aqui

Biagio Antonacci & Mario Incudine: "Mio fratello"

 





O vídeo de "Meu irmão" (“Mio Fratello”), o single de Biagio Antonacci conta com a colaboração de Mario Incudine. Os protagonistas estão, pela primeira vez juntos em um clipe de música. Os dois atores fazem o papel de dois irmãos sicilianos e descrevem visualmente o significado mais profundo do texto. O vídeo é um verdadeiro curta-metragem filmado em Roma, na fazenda Alpa. Uma canção com um texto muito profundo, a história de todos aqueles irmãos que, por várias vicissitudes, se distanciaram e vivem suas vidas sem conhecer a vida um do outro. Como em mil histórias de mil famílias, um irmão vai embora e o outro fica esperando o retorno. Quando o retorno acontece, a alegria é tão grande que dissipa o passado e todos os mal-entendidos. A música de Biagio Antonacci, portanto, é um hino, a metáfora de uma festa, porque quando há perdão e amor, tudo pode passar. O cantor e compositor considera a canção como uma “nova visão da parábola do filho pródigo, uma parábola 2.0, secular, moderna e contemporânea”. Para assistir à interpretação de Mio Fratello,nas vozes de Biagio Antonacci & Mario Incudine clique no vídeo aqui


Agora assista à interpretação da mesma canção nas vozes de Biagio Antonacci & Adriano Celentano clicando aqui


HUMOR - Inritado





Aqui quem está falando é o Padre Ivo, da Paróquia de São Judas da Glória. Estou mandando esse e-mail para pedir, por favor, que parem de brincar com Jesus. Toda hora ele vem aqui na paróquia chorando horrores, me atrapalha, atrapalha o andamento da missa, tenho que parar tudo que eu tô fazendo pra falar com ele. Fora que ele fica relapso, fica depressivo, essas zoações desconcentram ele do trabalho. Se não fossem essas piadas o mundo ia ser melhor, porque ele não viria para cá todo dia e resolveria todos os problemas do mundo. A fome na África, por exemplo, tá em pauta desde o início dos anos 2000, mas sempre vem uma piadinha pra atrapalhar. Enfim. Espero que entendam

Atenciosamente,
Padre Ivo

Divirta-se clicando aqui

 

Navegando pelo cinema

 






 Lutando como meninas




Rayen tinha 23 anos e estava na linha de frente dos protestos jovens contra o governo direitista de Sebastián Piñera no Chile em 2019. Na mesma época, Pepper, de 22 anos, enfrentava a polícia de Hong Kong nas manifestações contra a chinesificação do seu território teoricamente autônomo. Em Uganda, Hilda, 22 anos, batalhava pela conscientização de seus conterrâneos quanto à crise climática. Enquanto isso, o alemão Franz Böhm, então com apenas 20 anos, fazia um filme sobre elas. Chama-se "Filhos do Futuro" (Dear Future Children). O título original é como uma dedicatória às “queridas crianças do futuro”. Para ler o texto de Carlos Alberto Mattos clique aqui









 'O Carteiro e o Poeta'




Pablo Neruda passa a viver em uma pequena ilha italiana, e há tanta correspondência endereçada ao escritor que Mario, até então desempregado, é contratado como carteiro.  Para ler o texto de Marcelo Castro Moraes clique aqui










 Paula Gaitán: imaginário como potência




A obra da diretora colombiano-brasileira Paula Gaitán é tão multidisciplinar quanto sua trajetória profissional. Assim como ela navegou pelo cinema, pelas artes visuais, pela fotografia e pela escrita, seus filmes também transitam por diferentes linguagens, temas, estilos e formatos – do curta ao longa, do documentário à ficção, dos clipes musicais às instalações, das séries de televisão aos ensaios poéticos e experimentais. Para ler o texto de Luísa Pécora clique aqui

Camões com Dendê

 






O português do Brasil e os falares Afrobrasileiros





O confronto do português com as línguas bantas, em vez de provocar um conflito por falta de comunicação, resultou numa africanização do idioma. Se as vozes dos quatro milhões de africanos trazidos para o Brasil ao longo de mais de três séculos não fossem abafadas na nossa História, hoje saberíamos que eles, apesar de escravizados, não ficaram mudos. Participaram da configuração do português brasileiro e são responsáveis pelas diferenças que afastaram o português do Brasil do de Portugal. Para ler o texto completo clique aqui










Minha vida é na contramão da história", diz etnolinguista Yeda Pessoa de Castro


 


Depois de publicar os livros "Falares Africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro" e "A língua mina-jeje no Brasil: um falar africano em Ouro Preto do séc. XVIII", Yeda Pessoa de Castro está lançando agora sua mais nova obra, o livro "Camões com Dendê: o português do Brasil e os falares Afrobrasileiros". No currículo de Yeda, hoje com 86 anos, estão seu trabalho como etnolinguista, suas formações como mestre em Ciências Sociais pela Unife (atual Universidade Obafemi Awolowo), na Nigéria; doutora em Línguas Africanas pela Unaza (atual Universidade de Lubumbashi), no Congo; consultora técnica em Línguas Africanas do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo; membro da Academia de Letras da Bahia, e do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan em Línguas e Culturas Africanas. O extenso currículo não é de se espantar, visto que é o resultado de toda uma vida dedicada aos estudos linguísticos-culturais da África no Brasil. No novo trabalho, publicado pela editora Topbooks, Yeda se debruça na sua última pesquisa, iniciada há 20 anos, em que apresenta um “abecedário” de termos originários. Nesta entrevista, a etnolinguista condecorada no grau de Comendadora da Ordem Rio Branco pelo Itamaraty e com a Comenda Maria Quitéria pela Câmara de Vereadores da Cidade do Salvador, fala de como surgiu o interesse pelo campo da pesquisa, da dívida brasileira com as heranças africanas e dos próximos trabalhos. Para ler a entrevista de Yeda Pessoa de Castro clique aqui









Camões com Dendê”, com Yeda Pessoa de Castro e Caetano Galindo



Assista ao diálogo “Camões com Dendê”, com Yeda Pessoa de Castro e Caetano Galindo clicando no vídeo (1:10:27) aqui

 

sábado, 30 de julho de 2022

"As Palavras" - Eugénio de Andrade

 





As Palavras

 

 

 



As Palavras


São como um cristal,


as palavras.


Algumas, um punhal,


um incêndio.


Outras,


orvalho apenas.



 

Secretas vêm,


cheias de memória.


Inseguras navegam:


barcos ou beijos,


as águas estremecem.



 

Desamparadas, inocentes,


leves.


Tecidas são de luz


e são a noite.


E mesmo pálidas


verdes paraísos lembram ainda.



 

Quem as escuta? Quem


as recolhe, assim,


cruéis, desfeitas,


nas suas conchas puras?

 

 

 



Eugénio de Andrade


VÍDEO - Boaventura Sousa Santos: Lula volta para regenerar a democracia brasileira

 





O jornalista Leonardo Attuch entrevista o professor Boaventura de Sousa Santos. 0:00 Boas vindas.
1:30 A hegemonia do Ocidente está chegando ao fim. Os grandes derrotados são o povo ucraniano e o povo europeu. A guerra na Ucrânia acelerou o declínio europeu.
3:30 Europa caminha para uma situação semelhante à de um imenso Porto Rico, uma região associada aos Estados Unidos. Europa se submete aos Estados Unidos sem plano B. Não temos líderes, temos governantes.
11:00 Nunca havia visto uma guerra de informação tão brutal como agora.
16:00 Agronegócio explica a posição brasileira diante da guerra. Além disso, Bolsonaro é hoje o único homem do Trump.
18:00 Boaventura fala sobre o papel britânico na guerra.
21:00 EUA apoiaram o Brexit para enfraquecer a União Europeia. Boris Johnson foi produto de um golpe dentro do sistema inglês.
27:00 Bolsonaro atingiu um nome tão ruim que provavelmente está descartado pelos Estados Unidos. A tentativa será envolver o governo depois das eleições.
29:00 Intervenção dos Estados Unidos no Brasil deverá acontecer depois das eleições. É quase sem precedentes ver banqueiros assinando manifestos pela democracia. A estabilidade econômica do Brasil estará mais garantida dentro da democracia. É um sinal vermelho para Bolsonaro.
34:30 Será necessário grande vigilância democrática depois das eleições.
36:30 Os primeiros 100 dias de Lula serão de muito impacto. Ele está condenado a ter êxito, em razão do caos bolsonarista. O problema serão as mudanças estruturais. Vai conseguir taxar as grandes fortunas, usar os bancos públicos, ter uma política externa mais independente?
42:00 O Brasil tem que ser protagonista da integração regional, o que pode criar certa autonomia em relação às grandes potências. Um Brasil forte pode ser bom para a Europa também. Sou uma atlanticista do Sul. Lula tem capital enorme na Europa.
49:00 Boaventura Sousa Santos fala sobre a estatura de Lula. "É uma história mais brilhante do que a de Nelson Mandela". Lula volta para regenerar a democracia brasileira, uma democracia madrasta.

Para assistir à entrevista clique no vídeo aqui



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Prezado senhor Augusto Aras,

Numa de suas ironias mais afiadas contra o poder, George Bernard Shaw fazia uma relação entre a existência de um governo e a crueldade. Mas, com sua picardia, emendava: "nada é tão cruel quanto a impunidade".

Ao longo dos últimos três anos e meio, tenho me perguntado: existiria um sistema pelo qual todas as instituições continuam a existir teoricamente e, ao mesmo tempo, estão esvaziadas de suas funções? Existiria um estado de direito anestesiado? Haveria espaço numa democracia para uma Justiça de fachada?

O senhor desempenha um dos papéis mais relevantes em nossa República. Quem sou eu para explicar algo aqui. Mas, diante de uma era em que o óbvio se perdeu, vale ressaltar que seu cargo serve como uma espécie de pêndulo. Um garante do funcionamento das instituições. O elemento de equilíbrio. Ao ser propositiva, a Procuradoria-Geral da República provoca a atuação dos Poderes e inibe a inação e a omissão.

Claro, quando há uma anomalia e ele não opera, o que a história nos conta é que o Executivo e os outros Poderes acabam tendo suas funções deturpadas. No fundo, a omissão do pêndulo contribui de forma decisiva para o estabelecimento de um sistema disfuncional.

Eu não tenho idade para lembrar dos detalhes dos anos de chumbo no Brasil. Mas o senhor certamente sabe que, no regime militar, seu cargo era absolutamente controlado. De fato, se o senhor fosse o procurador-geral naqueles anos, teria de estar submetido ao Executivo. Sorte nossa que esse não é mais o caso.

Havia também muita suspeita naquele momento de que o procurador-geral nada mais era que um mecanismo subjugado por grupos no poder. Basta lembrar do caso da corrupção na mandioca. O sujeito pegava empréstimos de bancos públicos para plantar. Mas inventava um sinistro e embolsava o dinheiro.

Quando um procurador em Recife decidiu investigar, o então procurador-geral se apressou em retirar o caso de suas mãos. Tempos depois, foi descoberto que o motivo era simples: o envolvimento de um aliado dos militares no esquema da mandioca.

Sem a sinalização de uma proteção institucional, o procurador que ousou investigar terminou morto, na porta de uma padaria. Hoje, eu me pergunto, quantos no Ministério Público Federal também se sentem neste momento desamparados?

Senhor Aras,

a realidade é que, na sociedade, há uma pergunta recorrente: onde está o procurador-geral? Por qual motivo, entre as dezenas de indícios e suspeitas, não houve uma abertura de investigação contra o atual presidente da República?

Não faço a pergunta na forma de uma acusação. Afinal, não podemos cometer o crime de usar as instituições legais para perseguições políticas. Mas, ainda assim, questiono se abandonar por completo a função diante de tantas denúncias nos custará caro demais.

Ao enterrar as denúncias coletadas pela CPI da Covid após a morte de quase 700 mil brasileiros, ao não atuar nos ataques de Jair Bolsonaro contra a democracia, ao silenciar diante da política de desinformação, ao pedir o arquivamento da investigação aberta contra o presidente no STF pelo vazamento de dados do inquérito sigilo da Polícia Federal sobre o ataque hacker contra o TSE, ao fechar os olhos diante dos ataques explícitos de Bolsonaro ao sistema eleitoral e ao ignorar os orçamentos secretos, muitos de nós nos perguntamos: onde está a missão constitucional de proteção da democracia que o senhor detém?

Hoje, a sensação que reina no Brasil é de uma aura de impunidade, palavra repleta de dor. A impunidade como uma violação da obrigação do estado em proteger seus cidadãos. A impunidade como causa e consequência de outras violações de direitos humanos. A impunidade, enfim, como a violação em si.

Há um consenso que o combate por parte do estado contra a impunidade serve como trincheira para evitar novos crimes. Sua omissão, portanto, não é apenas um fracasso. Mas uma estratégia deliberada de frear a conduta criminosa numa sociedade. Lutar contra a impunidade não serve apenas como um ato para garantir que um crime tenha um responsável. Mas para mandar uma mensagem de confiança à sociedade em relação às suas instituições.

Diante da impunidade, sobreviventes prolongam seus traumas. Sob o manto da impunidade, o luto é sempre incompleto e a vitória é da narrativa do repressor.

A impunidade de rebanho, de certa forma, se consolida em doses que ameaçam a saúde de uma sociedade.

Recentemente o senhor minimizou as falas de Bolsonaro em diversos temas e as classificou como parte da liberdade de expressão, inclusive ao se referir à proliferação de armas. "O discurso do presidente é a retórica política, nós não temos muito o que fazer", disse o senhor em entrevista à agência Reuters. Mas percorri o interior do país e descobri que o discurso tem implicações reais, com sangue que demarca o chão, o coração e a alma de brasileiros.

É liberdade de expressão mentir e desinformar de forma deliberada em assuntos de vida ou morte? É liberdade de expressão difundir o ódio?

O senhor também afirmou que a democracia tem como virtude a "autorretificação permanente". "A alternância no poder que se faz periodicamente é o melhor das autorretificações, que é o povo buscar corrigir os seus equívocos, o grande benefício de uma democracia", disse.

Mas, senhor Aras, sabemos que nossa história política vive dias decisivos. As próximas semanas definirão quem somos, quem serão eventualmente nossos repressores e seus cúmplices.

E eu lhe pergunto: onde estará o senhor se as luzes da democracia forem apagadas?

Não haverá como argumentar que fomos pegos de surpresa. E nem que os sinais de alerta não foram dados diante de instituições que estavam supostamente funcionando.

Ou será que não estavam?

Saudações democráticas,

Jamil Chade

Fonte: UOL, 30/07/2022



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