sábado, 31 de dezembro de 2022

"Receita de ano novo" - Carlos Drummond de Andrade

 




Receita de ano novo

 




Para você ganhar belíssimo Ano Novo


cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,


Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido


(mal vivido talvez ou sem sentido)


para você ganhar um ano


não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,


mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;


novo até no coração das coisas menos percebidas


(a começar pelo seu interior)


novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,


mas com ele se come, se passeia,


se ama, se compreende, se trabalha,


você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,


não precisa expedir nem receber mensagens


(planta recebe mensagens?


passa telegramas?)


Não precisa


fazer lista de boas intenções


para arquivá-las na gaveta.


Não precisa chorar arrependido


pelas besteiras consumidas


nem parvamente acreditar


que por decreto de esperança


a partir de janeiro as coisas mudem


e seja tudo claridade, recompensa,


justiça entre os homens e as nações,


liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,


direitos respeitados, começando


pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo


que mereça este nome,


você, meu caro, tem de merecê-lo,


tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,


mas tente, experimente, consciente.


É dentro de você que o Ano Novo


cochila e espera desde sempre.



 

 

 

Carlos Drummond de Andrade



Para ler o Prefácio da 2ª edição do livro CULTURA ACÚSTICA E LETRAMENTO EM MOÇAMBIQUE: Em busca de fundamentos antropológicos para uma educação intercultural” do autor do blog clique aqui


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O Brasil no Mundo: perspectivas com Lula

 





A mudança de ano, baseada no giro do Planeta Terra em torno do Sol, não deixa de ser uma convenção humana, um modo de nos situarmos e relacionarmos como seres humanos vivos no complexo movimento do sistema natural planetário. O calendário que adotamos é um produto cultural dominante, eurocêntrico, que nos foi imposto como universal, fruto da expansão conquistadora colonial da Europa, que deu origem ao capitalismo. Muitos outros existiram e ainda existem como referências para culturas milenares, mas não têm a mesma amplitude. De todo modo, criamos calendários e acabamos subordinados ao ritmo ditado por eles, pois são uma necessidade humana, uma espécie de bem comum compartilhado, na relação entre nós mesmos e com a natureza. Para ler o texto de Cândido Grzybowski clique aqui








Carta para Lula: o senhor assume o mandato mais importante de nossa democracia




Senhor presidente,


Sobrevivemos ao momento mais ameaçador de nossa jovem democracia e vencemos sem disparar um só tiro. Um homem pequeno, repugnante, violento, cruel, ignorante e irresponsável fugiu, deixando órfãos milhares de seguidores que foram fraudados por uma estratégia que usou a mentira como instrumento de poder.


Agora, temos a obrigação de reinventar o futuro, em nome daqueles que padeceram sob um governo negacionista e de tantos outros que, em suas lágrimas, viram sonhos serem esmagados. Temos a obrigação de reinventar a nossa democracia, quem somos no mundo e nossa identidade nacional múltipla, diversa e inclusiva.


A realidade, presidente, é que a partir de agora os olhos do mundo estão focados no senhor.


Aos brasileiros, sua presidência tem pela frente a tarefa hercúlea de ter de restabelecer a confiança nas instituições, de pacificar famílias, de dar sentido à função pública, de resgatar a dignidade de milhões de famintos.


Ao mundo, sua gestão terá de provar que a Amazônia não fica na periferia do Brasil. Mas sim no centro do poder, das prioridades e do projeto de nação. Dela depende, em muitos aspectos, a sobrevivência não apenas de uma democracia. Mas de nossa existência no planeta.


Ao mundo, que carece de liderança, sua presidência terá de provar que somos um parceiro confiável, que combatemos a corrupção e o crime, que somos parte das soluções para as crises do planeta. E não parte dos problemas.


Sua posse será marcada por um número inédito de delegações estrangeiras. Mas não tenha a ilusão de que isso é uma chancela pessoal apenas ao senhor. Sua vitória - e agora sua posse - eram passos fundamentais para que as democracias ocidentais pudessem dar uma resposta ao movimento de extrema-direita, que ganha terreno, invade famílias, cultos, escolas, torcidas de futebol e todos os aspectos da sociedade.


Prezado Lula,


Por tudo isso, considero que o senhor assume o mandato mais importante da história da democracia brasileira. Talvez essa seja a última chance que temos de desmontar um movimento bárbaro que fincou raízes profundas e armadas no Brasil.


Um eventual fracasso de sua gestão dará força e uma narrativa de legitimidade a grupos que não acreditam na democracia como pacto social.


Bolsonaro fugiu. Mas o bolsonarismo se instalou em nosso país. Ganhou assentos importantes no Senado e nos estados. E, com a ajuda da flexibilização de certas leis, abriram nas consciências armas um espaço real para o ódio.


Não há consenso sobre seu nome, as urnas mostraram isso. Muitos brasileiros não teriam votado no senhor se não fosse por uma necessidade urgente de impedir a implosão de nossa democracia. Isso sem contar com a outra metade do país que não votou pelo senhor.


Portanto, não haverá período de trégua, um silêncio de 100 dias ou uma suposta lua de mel.


Como imprensa, estamos aqui para fiscalizar, cobrar e questionar. Mas também para reconhecer que decisões tomadas por sua equipe merecem ser aplaudidas: uma Funai verdadeiramente indígena, a volta da participação de mulheres em postos ministeriais, a busca por uma diversidade, uma liderança real em temas de direitos humanos, cientistas renomados responsáveis pela Saúde, ambientalistas nos cargos adequados, vozes do movimento negro no esforço de democratização.


Somos hoje uma nação violentada, uma república profanada e temos o ódio normalizado como instrumento político. O mandato de quatro anos do governo de Jair Bolsonaro termina com uma característica típica dos mandatários medíocres: a covardia.


Desejar o inferno para esse imoral não resolverá nossos problemas. Temos de desejar Justiça. Para que quem mate morra de medo. Para determinar, como bem colocou o argentino Julio Strassera, que o sadismo não é uma orientação política. É perversão moral.


Presidente,


A tarefa de retirar o país de um fosso, da depressão e do esgotamento é enorme. Muitos acreditam que o senhor não tem direito de errar. A cobrança é exagerada? Talvez. Mas o que está em jogo definirá nossa geração. No Brasil e no mundo.


Boa sorte, feliz ano novo e saudações democráticas


Jamil Chade


Fonte: UOL, 31/12/2022


2022 à la minute - On my own

 




Gosto mais da frase em inglês — on my own — do que em português: só comigo. A minha intenção ao escrever este texto sobre o ano de 2022 é a mesma dos solitários que fazem desenhos na areia: entreterem-se enquanto falam consigo próprios. Depois, quem passa olha, se lhe apetecer acrescenta, apaga, ou distorce. E segue o seu caminho. A nova maré levará a obra. O desenhador irá olhar o vazio para lá do horizonte. Para ler o texto de Carlos Matos Gomes clique aqui



Leia "Pepe Escobar: Que comecem os jogos à volta dos mísseis Patriot" clicando aqui



Leia "Larry Johnson: A varíola na Pax Americana" clicando aqui


Vanessa da Mata: "Só Você E Eu"

 




Para assistir à interpretação de "Só Você E Eu" na voz de Vanessa da Mata clique no vídeo aqui

Navegando pelo cinema

 



Fino artesanato sobre um grande muralista 



No belíssimo documentário de Lina Chamie, Eduardo Kobra menciona pelo menos duas vezes que não gosta de autorretratos. “Meu retrato está nas coisas que eu pinto”, diz, como costumam dizer muitos pintores. Lina talvez tenha aproveitado essa deixa para intitular seu filme sobre um dos maiores artistas brasileiros da atualidade. Para ler o texto de Carlos Alberto Mattos clique aqui







 Memórias de um Amor




Uma mistura interessante entre “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” e a viagem dentro das memórias com “Sentidos do Amor”, o relacionamento que nasce em uma crise pandêmica. Provavelmente quando foi planejado, “Little Fish” não tinha intenção de dialogar tanto com o que a sociedade viria a presenciar, logo que foi finalizado antes mesmo da COVID. É assim, que hoje, a obra vem com um peso enorme, porque conversa com nossos medos atuais e esta incerteza do amanhã. Para ler o texto de Fernando Labanca clique aqui







"Tàr": Cate Blanchett magnética em quebra-cabeça compensador




Todos conhecemos o rosto de Cate Blanchett, mas há algo novo em sua face neste “Tár”. Naturalmente, é próprio do ofício do ator, principalmente em certas escolas mais naturalistas, a mutabilidade, a maleabilidade do visual, do rosto, do corpo. Mas, repito, há algo de novo no rosto de Cate Blanchett. Para ler o texto de Marcos Faria clique aqui


HUMOR - Grau novo

 



Lentes multifocais no seu grau, qualquer grau, por apenas 12x de 279,89. Óculos para leitura no seu grau, qualquer grau, por apenas 10x de 89,90. Óculos para mamar por engano o marido da sua chefe por apenas 1x de talaricagem. Óticas do Porta, morô? Divirta-se clicando aqui


A arte fotográfica em destaque

 





37 manipulações fotográficas surreais de Zulkarnain Ismail 



Zulkarnain Ismail é um artista digital malaio cujas obras de arte beiram a fotografia realista e a fantasia. Qualquer que seja seu estilo, podemos dizer com certeza que sua arte é absolutamente cativante. É surpreenbdente a maneira como ele dá um toque lúdico e imaginativo à natureza e às paisagens urbanas, incentivando todos nós a sermos mais criativos em nossas vidas cotidianas e a ver as coisas de maneira diferente. Para ver 15 das melhores obras de Zulkarnain clique aqui







Balanço 2022. As imagens do ano, pelos fotógrafos do Público




O mundo foi assim, em 2022, pela lente dos fotojornalistas do PÚBLICO. Para ver as fotos clique aqui


sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

"Aprendiz" - Valter Bitencourt Júnior

 




Aprendiz

 

 

 



As lágrimas


Dos olhos


De uma criança


Que aprendeu


A amar um time


Escorreu ao ver


A vitória do rival.


A criança


Aprende desde cedo


Que em jogo de futebol


Não é somente de ganhos:


- Um dia ganha, um dia perde,


Um dia ganha...


Assim também é a vida.



 

 

Valter Bitencourt Júnior

 




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Pelé é o grande soberano da história

 





O Rei do Futebol conquistou mais seguidores do que Cristo, Alá ou Marx. Era um simples futebolista, mas sua genialidade dentro das quatro linhas inundava o planeta de felicidade. Para ler o texto de Breno Altman clique aqui


Assista ao "VÍDEO EXCLUSIVO - "Vai ser o Edson ou vai ser o Pelé que morreu? O Pelé eu acho que não morre mais" clicando aqui


Leia "Pelé destruiu estigmas raciais e influenciou identidade brasileira, dizem pesquisadores" clicando aqui


Leia "João Paulo Charleaux: Pelé, o muro e o mar" clicando aqui









Terrorismo à brasileira




Na ausência de seu principal líder, talvez reste à direita radical justamente a violência terrorista. Para ler o texto de Cristiano Fretta clique aqui 


Leia "Amanda Gorziza e Renata Buono: Covid mudou vida e morte no Brasil" clicando aqui


Leia "Vladimir Safatle: A desigualdade como bloqueio estrutural" clicando aqui


Leia "Um estudo da Universidade de Exeter indica que a Amazónia está a secar" clicando aqui


Leia "Liszt Vieira:  A ressurreição do meio ambiente" clicando aqui


Leia "Bernardo Esteves: Com Marina ministra, Lula busca repetir sucesso do primeiro governo na área ambiental" clicando aqui


Leia "Marco Pigossi: Eu me sinto invencível" clicando aqui

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