quarta-feira, 31 de março de 2021

"Temponoite" - Pedro Tierra

 





Temponoite

 

 

 


E sobreveio um tempo sem entranhas.


Anos de pedra espessa,


dias de muro e medo:




a morte invadiu


com seus exércitos


o espaço aberto das ruas




e o silêncio imposto pelas armas


sepultou com seus ferros


e o manto verde-oliva


os ossos dos meninos trucidados.




E os coveiros do Continente


estenderam seu império


de delatores,




carrascos,




elegantes assassinos


de farda impecável


e coturnos reluzentes,




até ao porão das fábricas,


a marcha dos retirantes,


os barracos das favelas,


os bancos das escolas,


os sonhos dos saqueados,




até a última fresta


onde a boca dos humanos


passasse ao humano ouvido


palavras de rebeldia.




E a Noite pensou de si mesma


que que era um Tempo sem prazo,


sem passado, sem futuro,


um Tempo que se bastava,


da própria dor se nutria.




Os olhos da Noite cega


não viram fagulhas saltando


na alma das oficinas,


não viram tochas ardendo


na marcha dos retirantes,




não viram os favelados


recriando o fogo vivo


nas estações depredadas,




e os olhos dos estudantes


clareando de esperança


as ruas submetidas.




Os olhos da Noite cega,


não viram o sonho do povo


reacendendo fogueiras


no ventre da escuridão


enquanto busca romper


as turvas cadeias do sol



e Amanhecer!






(Presídio Político de São Paulo, maio de 1975)


Este poema foi escrito no Presídio do Barro Branco, na Zona Norte de S. Paulo, onde se encontravam encarcerados quarenta e dois condenados pela Lei de Segurança Nacional. Essa mesma que segue vigente apesar da Constituição liberal-democrática de 1988. Releio essa página hoje, 31 de março, quarenta e seis anos depois e confirmo, não sem amargura, uma convicção antiga: o Brasil é um país que se move em círculos. Esse poema poderia ter sido escrito ontem para denunciar um passado que se recusa a nos deixar. Insiste em atar-se ao presente e imprimir nele sua marca de desigualdade, exclusão, brutalidade, tortura, de insensibilidade frente à dor do outro. E a literatura segue sendo interpelada a dar o seu testemunho.

Ditadura Nunca mais!

***

*TEMPONOITE – Esse poema está incluído no volume Poemas do Povo da Noite” (Editoras Fundação Perseu Abramo/Publisher 4a Edição).

Pedro Tierra – Poeta. Lutou contra a ditadura militar de ontem e luta contra o neofascismo de hoje


"Nenhuma crise vai ser superada se as Forças Armadas atuam como um partido"

 



Por ser um dos únicos militares a criticar abertamente a presença maciça de oficiais das Forças Armadas na política, o coronel da reserva Marcelo Pimentel Jorge de Souza acabou conquistando notoriedade nas redes sociais. Suas postagens praticamente diárias com ácidos comentários e reflexões a respeito dos seus antigos comandantes no Exército que, agora, interferem no ambiente político e assumiram funções tipicamente civis passaram a ser mencionadas por colunistas da mídia do eixo Rio-São Paulo-Brasília. Para ler sua entrevista clique aqui


Leia "O fim do capitão ficou mais próximo" de José Luis Fiori clicando aqui


Leia "Os movimentos de Bolsonaro para radicalizar a política" de Luís Nassif clicando aqui


Leia "Custo de dar um golpe é gigantesco" Entrevista com Eduardo Costa Pinto clicando aqui


Leia ""Cúpula das Forças Armadas havia decidido desembarcar do governo Bolsonaro desde o ano passado", diz especialista" Entrevista com Francisco Teixeira clicando aqui


Leia "A crise se aprofunda. Um autogolpe pode agravá-la. Uma nova 'imaginação' é necessária" Entrevista com Luiz Werneck Vianna clicando aqui


Leia "Uma vela para a política, outra para a guerra" de Igor Felippe Santos clicando aqui


Leia "A "nova ordem" e o pária mundial" de Bruno Beaklini clicando aqui


Leia ""A ditadura militar foi um celeiro de corrupção", afirma pesquisador Pedro Henrique Pedreira de Campos" clicando aqui


Leia "Internautas resgatam vídeo de fala corajosa de Dilma denunciando os horrores da ditadura" clicando aqui


Leia "Márcia Tiburi e Jean Wyllys falam sobre exílio do "Brasil de Bolsonaro"" de Lu Sudré clicando aqui


Leia "A desindustrialização acelerada no Brasil pós-golpe" de Galuco Arbix clicando aqui


Leia "R$ 600 até o fim!" de Paulo Kliass clicando aqui


Leia "Átila Rohrsetzer pode ser o primeiro brasileiro condenado por crime da ditadura na operação Condor" de Aiuri Rebello clicando aqui


Leia "O discreto charme da decadência da classe dirigente brasileira" de Marcio Pochman clicando aqui



Ritanna Armeni: A visão ampla de Naomi Klein

 



 difícil dizer se os jovens que foram às ruas contra o Fundo Monetário Internacional ou a Organização Mundial do Comércio no início do milênio foram influenciados pelo livro de Naomi Klein ou se a escritora foi influenciada pelos protestos que naqueles anos estavam começando a ocupar as praças do planeta. É certo que ambos revelaram a dupla exploração, aquela que se espalha nos países ricos, pela exaltação da marca e aquela que empobrece cada vez mais os já pobres. Os garotos e garotas que protestaram no início de 2000 criaram as bases para a revolta dos ainda mais jovens seguidores de Greta em defesa do planeta, que também foi atingida pelos superlucros, pelo abandono e pela exploração", escreve Ritanna Armeni. Para ler seu texto clique aqui



Leia "A consciência social, baluarte da democracia" de Daniele Gianolla clicando aqui

Sheryl Crow & Eric Clapton - "Tulsa Time"

 


Para assistir à interpretação de "Tulsa Time" nas vozes de Sheryl Crow & Eric Clapton clique no vídeo aqui

Navegando pelo cinema


O mistério Siron


Conciso nos recursos e arejado na forma de apresentar o personagem, 'Siron - Tempo Sobre Tela' cumpre bem a difícil tarefa de investigar um processo de criação. Para ler o texto de Carlos Alberto Mattos clique aqui


 


O cinema por um mundo justo de um povo soberano 



À disposição do público cinéfilo e das cidadãs e cidadãos que não esquecem a funesta data de hoje, os filmes do documentarista Silvio Tendler neste dia de luto nacional. Para ler o texto de Léa Maria Aarão Reis clique aqui




México em transe


'Nova Ordem' faz uma exploração quase obscena do conflito de classes e apresenta uma distopia política confusa. Para ler o texto de Carlos Alberto Mattos clique aqui





Miguel Littin, entre o Chile e o exílio


Mostra com doze filmes traz a obra de um cineasta chave do Novo Cinema Latino-americano. Para ler o texto de Carlos Alberto Mattos clique aqui



As Esculturas Impermanentes de Vitor Schietti, fotógrafo brasileiro



Vitor Schietti descobriu o fogo. Não as chamas que tudo consomem, mas pequenas faíscas, que “revelam uma energia vibrante que não conseguimos ver a olho nu”. “Está relacionado com algo anterior à própria vida, ou melhor, um impulso, uma força primordial que penetra e emana de tudo, seres vivos e aparentemente não vivos”, apresenta. O artista brasileiro já era fã de longas exposições e da técnica fotográfica de light painting, quando começou a experimentar mostrar a vida escondida nas árvores, rochas e paisagens naturais com os foguetes conhecidos por “estrelinhas” (“chuva de prata” no Brasil, explica). Para ler o texto de Renata Monteiro e ver as fotos de Vitor Schietti clique aqui

 

Slavoj Žižek: A (falta de) alma dos políticos: Biden, Putin e Trump

 



"Negar que seu inimigo político tenha uma alma não é nada menos do que uma regressão ao racismo vulgar que vem ecoando algumas das gafes de Joe Biden.” Para ler o texto de Slavoj Žižek clique aqui


Leia "Stiglitz e Spence alertam: a recuperação pós-covid será mundial ou não acontecerá" clicando aqui


Leia "Stiglitz: a pandemia trará o apartheid global?" clicando aqui


Leia "Os obstáculos ideológicos ocultos à vacinação" de Santiago Zabala clicando aqui


Leia "Yunus: tirem as patentes das vacinas, o egoísmo de poucos ameaça o planeta" clicando aqui


Leia "Vacinações em uma corrida contra variantes virais" de Andrew Salmon clicando aqui


Leia "Pausa pela pandemia ajudou eólica e solar a empurrar carvão para queda recorde" de Cinthia Leone clicando aqui


Leia "Quando a Geografia importa ao Jornalismo" de Antônio Heleno Caldas Laranjeira clicando aqui

terça-feira, 30 de março de 2021

"Amor e sono" - Algernon Charles Swinburne

 





Amor e sono

 

 

 


Deitado a dormir entre os afagos da noite


Vi o meu amor debruçar-se sobre o meu leito triste,


Pálida como a mais escura folha do lírio ou corola


De pele macia e escura, o pescoço nu para ser mordido,



 

Transparente demais para corar, tão quente para ser branca,


Apenas de uma cor perfeita sem branco nem vermelho.


E os lábios abriram-se lhe-amorosamente e disseram -


Nem sei bem o quê, exceto uma palavra - Deleite.



 

E a face dela era toda mel na minha boca,


E o corpo dela todo pasto a meus olhos;


Os braços longos e lentos, as mãos quentes de fogo,



 

As ancas frementes, o cabelo a cheirar a Sul,


Os pés leves luzentes, as coxas esplêndidas e dóceis


E as pálpebras fulgentes com o desejo da minha alma.


 

 

 

 

Algernon Charles Swinburne

(Reino Unido, 1837-1909)


O culto à morte forjou o "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos"

 



Lei de Segurança Nacional está na base da retórica que tenta justificar a eliminação dos inimigos do país, que, nosso caso, são os próprios brasileiros. Para ler a entrevista de João Cezar de Castro Rocha clique aqui

Leia "A perigosa cartada do desespero" de Gilberto Maringoni clicando aqui


Leia "Imprensa dá voz à farsa de que generais se descolaram de Bolsonaro, mas militares seguem afundados no governo" de Rafael Moro Martins e Leandro Demori clicando aqui


Leia "Por que precisam de tantas mortes?" de Otaviano Helene clicando aqui


Leia "Um roteiro para entender a confusão atual" de Valter Pomar clicando aqui


Leia "De Gilmar a Gilmar" de Igor Grabois e Leonardo Sacramento clicando aqui


Leia "Pandemia: o que aprender com o Vietnã" de José Eustáquio Diniz Alves clicando aqui


Leia "Lula: um estadista" de Cristiano Fretta clicando aqui


Leia "Quanto a sociedade perde com a guerra às drogas?" de Caê Vasconcelos clicando aqui


Depois da pandemia, não podemos voltar a dormir

 



Em um ensaio que escreveu pouco antes de falecer, o anarquista David Graeber argumenta que, depois da pandemia, não podemos normalizar uma realidade voltada para servir aos caprichos de um punhado de ricos que desvaloriza a grande maioria de nós. Mesmo que, como fizeram em 2008, a mídia e as classes políticas tentem nos convencer a pensar assim. Para ler seu texto clique aqui


Leia "Por centenas de anos, as pandemias remodelaram a forma como trabalhamos" de Freg J. Stokes clicando aqui


Leia "Silvia Federici: "Espero que esse momento impulsione uma forte mobilização de movimentos feministas""  clicando aqui


Leia "A condição feminina vive uma nova temporada graças à geração de jovens mulheres" Entrevista com Lucetta Scaraffia clicando aqui


Leia "O que o ecofeminismo postula?" clicando aqui


Leia "Plantar árvores para salvar o planeta: a experiência chinesa" clicando aqui


Leia "Estados Unidos/OTAN versus Rússia-China em uma guerra híbrida 'vencer ou morrer'" de Pepe Escobar clicando aqui


Leia "Irlanda e América Latina: irmãs em armas contra o imperialismo" de Nathália Urban e John McEvoy clicando aqui


Leia "Bloqueio do Canal de Suez expõe fragilidade da globalização" de Henrik Boheme clicando aqui


Leia "O papel das imagens nas narrativas pandêmicas" de Esther Hamburger clicando aqui


Mara Bosisio & Massimo D'Alessio: "Lo chiamavano Jeeg Robot"

 


Para assistir à interpretação de "Lo chiamavano Jeeg Robot" com a vocalista Mara Bosisio & o pianista Massimo D'Alessio clique no vídeo aqui

Edgar Morin: "Pensar a vida, pensando em nossas vidas"

 




crise da saúde desencadeou uma engrenagem de crises que se concatenaram. Essa policrise ou megacrise se estende do existencial ao político, passando pela economia, do individual ao planetário, passando pelas famílias, regiões, Estados. Em suma, um minúsculo vírus em um vilarejo ignorado na China desencadeou a perturbação de um mundo”, avaliou Edgar Morin, em entrevista ao jornal Le Monde, em 20 de abril de 2020.  Izabel Cristina Petraglia, da Universidade Metodista de São Paulo, com longa trajetória dedicada ao estudo do pensamento complexo, apresentou as ideias centrais de O Método IIA vida da Vida, em diálogo com outras obras da trajetória intelectual de Edgar Morin. Para ler seu texto clique aqui




"O que resta de Auschwitz" de Giorgio Agamben



Theodor Adorno afirmou certa vez que não era possível fazer poesia depois de Auschwitz. Em Sombras sobre o rio Hudson (Companhia das Letras), um personagem de Bashevis Singer afirma que não é possível sustentar a existência de Deus depois de Auschwitz. Na obra de Hannah Arendt, encontramos várias vezes a sugestão de que a fabricação da destruição sistemática dos homens tornou impossível pensar a política depois de Auschwitz. O livro O que resta de Auschwitz, de Giorgio Agamben, mostra que Auschwitz, ao invés de demonstrar a impossibilidade da filosofia, da poesia ou da política, abriu uma nova possibilidade de pensar cada uma dessas dimensões, que seria pensá-las no limite, no limite entre a vida e a morte, o humano e o não humano, a dignidade e a não dignidade, a política e a fabricação. Para ler o texto de Leonardo Avritzer clique aqui




O capitalismo não vai nos salvar da Covid



Quando a ganância é a filosofia que guia um governo, um “apartheid vacinal” está praticamente garantido. Para ler o texto de Mariana Mazzucato clique aqui








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