quarta-feira, 30 de junho de 2021

"Guiné - Irkutsk" - Adão Cruz


 


Guiné - Irkutsk

 





Não chovia, mas o céu ameaçava desfazer-se em água. Era plúmbeo,  presumivelmente a oeste, e carregado de negro do lado oposto. Uma faixa mais clara nascia por cima de Irkutsk e desfibrava-se ao longo do rio Angorá. Mais parecia um quadro de Fiódor Vasiliev ou de Ivan Aivasovsky.


 

Como a vida tem tantas formas de circularidade, sentei-me num banco de jardim à beira do rio, e dei ordens à memória para me buscar aquele rapaz soviético que, há muitos anos, num ardente dia de sol, as nossas tropas aprisionaram no norte da Guiné. Era de Kiev, mas tinha nascido em Irkutsk, na Sibéria.


 

Técnico de máquinas automáticas, oferecera-se, como voluntário e internacionalista, para ajudar os guerrilheiros do PAIGC a combater as tropas colonialistas.


 

Na pequena sala onde funcionava a secretaria do nosso aquartelamento, estava o prisioneiro como que pregado a uma cadeira. Tinha na sua frente o capitão da nossa Companhia, o capitão da Companhia de intervenção que o capturou, dois ou três sargentos e outros tantos alferes, e eu.


 

Os lábios do jovem soviético nascido em Irkutsk estavam gretados de sede e de sol. Um sorriso feito de água, terra, fogo e ar, iluminado por um sol negro de melancolia, denunciava um grande medo dos homens que tinha na sua frente.


 

O capitão foi buscar um copo de água e entornou-a lentamente a uma mão travessa da boca do rapaz. Os olhos quase saltaram das órbitas. Pedi ao capitão que me desse o copo, enchi-o de água e raiva e dei-o a beber ao prisioneiro. Valeu-me a firmeza com que o fiz e o facto de ser médico.


 

Se algum dia a minha vida pudesse ser música!…


 

Desconfiado, levou o copo à boca…


 

Ainda hoje eu não sei falar de tudo o que treme nas mãos de uma criança!


 

O céu arrependeu-se de chover. Seguimos para o lago Baikal, a maior reserva de água doce do mundo. Segundo os cálculos, daria para matar a sede à humanidade durante oitocentos anos. Quando senti nas mãos a água fria das margens lembrei-me de um copo de água lá nos confins da Guiné.


 

Eu não sou capaz de crescer para as palavras, mas dava tudo para cruzar os tempos que ainda são tempo, e mostrar ao mundo a dimensão que o homem é, e a pequenez que usa por força da fraqueza.




 

Adão Cruz

 

 

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Bolsonaro é um agente letal que agrava a pandemia



O Congresso Nacional se tornou uma extensão do matadouro instalado na presidência da República, que celebra a morte de Lázaro mas não se compadece de mais de meio milhão de mortos por covid-19. Para ler o texto de Adilson Paes de Souza clique aqui


Leia "A ameaça de impeachment" de Igor Felippe Santos clicando aqui


Leia "A derrota dos povos indígenas na demarcação das terras é a derrota do Brasil" Entrevista com Leonardo Barros Soares clicando aqui


Leia "Se os Chicago Boys são tão bons, por que os EUA nunca nomearam um deles na área econômica?" de Marcelo Milan clicando aqui


Leia "Retrato (e percalços) dos trabalhadores da Saúde" de José Álvaro de Lima Cardoso clicando aqui


Leia "A economia política de Zé do depósito" de Marcio Ka'Yasá clicando aqui


Boaventura de Sousa Santos: Sociologia da claridade e da escuridão

 



Opostas na aparência, mas ambíguas, elas confundem seus sentidos na História. O Ocidente se disse iluminista e clareou a noite em prol da produção e do biopoder. Mas nas sombras deslizam os amantes, os artistas e os revolucionários. Para ler o texto de Boaventura de Sousa Santos clique aqui


Leia "The Other Economy, uma plataforma para construir uma economia ecológica e solidária" de Alain Grandjean clicando aqui


Leia "Bilionários aumentam patrimônio, pobres perdem na pandemia" de Edelberto Behs clicando aqui


Leia "China vs EUA: uma história de dois sonhos contrastantes" de Swaran Singh clicando aqui


Leia "A economia norte-americana hoje" de Bruno Biasetto clicando aqui


Leia "Britney Spears está sofrendo abuso sexual, segundo Lei Maria da Penha" de Bruna de Lara clicando aqui




HAUSER: " Waka Waka"

 


Para assistir à interpretação de "Waka Waka" por HAUSER clique no vídeo aqui

Escola e Universidade: Eros e educação



Para ler as reflexões de Olgária Matos sobre a crise da Universidade contemporânea clique aqui

 



Cory Doctorow fala sobre o problema da propriedade intelectual


As patentes já foram vistas como uma recompensa financeira temporária para os inventores. Hoje em dia, porém, elas se tornaram uma barreira para o desenvolvimento humano com a “propriedade intelectual” supostamente inviolável ​​que enriquecem bilionários como Bill Gates. Para ler a entrevista com Cory Doctorow clique aqui




Movimento estudantil japonês e as políticas revolucionárias de 1968


Historiadores frequentemente negligenciam o movimento de protesto da Nova Esquerda do Japão no final dos anos 60, apesar de ter sido um dos maiores no mundo. Ativistas estudantis radicais fizeram parar o sistema universitário – e mudaram o futuro da política japonesa para sempre. Para ler o texto de Hiroshi Nagasaki clique aqui


As raízes da opressão LGBT



A homofobia está ligada historicamente, assim como o machismo, racismo e o sexismo, às formas de reprodução capitalista e serve para dividir a classe trabalhadora. O dever do socialismo é unir as classes e defender uma sociedade onde as pessoas sejam sexualmente livres. Para ler o texto de Sherry Wolf clique aqui

 



Escravidão, a origem do racismo 


"O paradoxo da época pós-nazista é um racismo sem raças, para o qual não é mais suficiente aquela que os estudiosos chamam de 'definição restrita'. Situa-se nessa nova direção de estudo a pesquisa de Aurélia Michel, antropóloga francesa especializada em América Latina, sensível às questões da desigualdade, que em seu livro Il bianco e il negro. Indagine storica sull'ordine razzista", escreve Donatella Di Cesare, filósofa italiana. Para ler seu texto clique aqui


"Depressão é falta de Deus": ateístas ouvem absurdos e encaram preconceito

 



No início de junho, Universa conversou com mulheres que não revelam sua fé no trabalho para evitar o preconceito religioso. Entre as centenas de comentários no post no Instagram, muitas leitoras atentaram para o fato de que quem não tem nenhuma religião também sofre ataques, justamente por não professar nenhuma fé. A criadora de conteúdo Tathiana Nunes sabe bem: já foi chamada de satanista só porque falou da sua falta de fé no sobrenatural. Já a modelo Letícia Linper fala que frequentemente ouve que é uma pessoa infeliz por não acreditar em Deus. E a modelista Beatriz Barros escuta que, pelo mesmo motivo, "vai arder no inferno". Em uma pesquisa feita pelo Instituto Rosa Luxemburgo e Fundação Perseu Abramo, em 2008, 42% dos brasileiros disseram sentir aversão aos ateus (17% "ódio/repulsa", e 25% "antipatia"). O outro grupo que tem rejeição similar é a dos usuários de drogas, que também são alvo de "repulsa ou ódio" de 17%, e de "antipatia" por 24%.Para ler o texto de Luiza Souto clique aqui

terça-feira, 29 de junho de 2021

"Sedução" - David Mourão-Ferreira


 



Sedução


 


LVII


 

Quando menos vestida


mais intenso o brilho


das joias da sedutora.


 

LIX


 

A sedução é uma planta carnívora.


Não há memória de sedutoras vegetarianas.


 

LXI


 

A sedutora pode tornar-se perigosa


quando se deixa seduzir.


 

LXIX


 

Ai da sedução que não é uma arte!


Ai da arte que não é uma sedução!

 



 

David Mourão-Ferreira



 

 

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"Só falta eles soltarem um grito de Viva a Morte!" Entrevista com Juca Kfouri

 



Com um olho na bola e o outro na política, o lendário jornalista esportivo Juca Kfouri mostra que a luta de classes também está nas arquibancadas e conta como a tentativa de Bolsonaro de usar o futebol para acobertar seus crimes pode fracassar – como aconteceu na ditadura. Para ler sua entrevista  clique aqui


Assista ao "VÍDEO - Entrevista de Lula para a Telesur" clicando aqui


Leia "O que pensam os bolsonaristas sobre golpe, urna eletrônica e pandemia" de Esther Solano clicando aqui


Leia "Pandemia e qualidade de vida: estudo aponta tristeza, ansiedade e solidão como sentimentos frequentes" de Daiane Batista clicando aqui


Leia "Os polos de poder" de Luís Fernando Vitagliano clicando aqui


Leia "Desafios contemporâneos" de Ricardo Abramovay clicando aqui


Leia "Desafios atuais do pensamento político brasileiro" de Bernardo Ricúpero clicando aqui


Leia "Por que é insano privatizar a Eletrobrás" de Roberto Pereira D'Araújo clicando aqui


Leia "O ritual racista da imprensa na cobertura do caso Lázaro Barbosa" de Fabiana Moraes clicando aqui


Leia "Desprezo pelo uso da máscara é uma opção trágica" de Rodrigo Ferrarese clicando aqui

A China planeja uma mudança de modelo econômico

 



A economia chinesa resistiu bem à pandemia, mas a crise a alertou para certas vulnerabilidades, enquanto outras, mais latentes, podem eventualmente transformá-la em um verdadeiro colosso com pés de barro. Ela deve mudar para continuar a crescer. Então, devemos temer seu poderio econômico? Quais serão suas prioridades nos próximos anos e que consequências isso terá para o resto do mundo? Para ler a entrevista com Camille Macaire, pesquisadora associada do CEPII (Centre d'Etudes Prospectives et d'Informations Internationales – Centro de Estudos Prospectivos e de Informações Internacionais) e coautora com Michel Aglietta e Guo Bai de um artigo sobre o 14º plano quinquenal chinês, clique aqui


Leia "Para olhar Xinjiang além das lentes ocidentais" de Diego Pautasso e Isis Paris Maia clicando aqui


Leia "A economia estadunidense é perigosamente frágil. A concentração de riqueza é a culpada" de Robert Reich clicando aqui


Leia "Francisco Louçã: Depois da derrota afegã" clicando aqui


Leia "O novo velho continente e suas contradições: O mais repulsivo crime contra a dignidade humana" de Celso Japiassu clicando aqui


HAUSER: "Conga"

 



Para assistir à interpretação de "Conga" por HAUSER clique no vídeo aqui

Um livro-manifesto por um novo senso de utopia

 



Soou o alarme (2020) analisa a crise do capitalismo sob o signo da pandemia. E propõe saídas ao inferno ultraliberal: ir além da recuperação do Estado, apostando na soberania popular e em rebeldias fora da racionalidade europeia. Para ler o texto de Homero Chiaraba clique aqui



O sonho do Vale do Silício acabou?


“The dream is over”, cantava John Lennon em um de seus discos de 1970. Título da música? God, nada menos do que isso. Um deus morto e enterrado junto com todas as suas manifestações terrenas – de Cristo a Elvis com Kennedy e Hitler no meio –, gritava o mais desiludido entre os barões da Rainha, depois de se despedir dos Beatles e de uma vida que nunca deixou de ser celebrada como ingênua, bela e fechada. para ler o texto de Emilio Cozzi clique aqui



Os três conselhos de Harari para frear o "autoritarismo digital" 


Para Yuval Noah Harari “Estamos assistindo o surgimento de um novo tipo de colonialismo, um novo mapa do mundo formado pelo fluxo de dados. Em épocas passadas, as matérias-primas fluíam da colônia para os centros imperiais, como das colônias espanholas, na América do Sul, para a Espanha. Agora, a maior parte do mundo está se tornando colônias de dados nas quais os dados brutos fluem para os centros imperiais na China e nos Estados Unidos, onde são desenvolvidos os algoritmos, a inteligência artificial e as ferramentas mais sofisticadas de controle. É uma situação extremamente perigosa”. Para ler o texto de Carlos Del Castillo clique aqui




Poluição ambiental é o 5º principal fator de risco de morte no mundo 


A poluição do ar é considerada o principal risco de saúde evitável que afeta a todos, embora os mais vulneráveis sejam as pessoas de menor nível socioeconômico, idosos e crianças.  Para ler a entrevista da Dra. Marilyn Urrutia-Pereira, membro Departamento Científico de Biodiversidade e Poluição, criado recentemente pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) clique aqui




Fracasso do neoliberalismo? 


Em um 2020 de pandemialockdown (fechamento de empresas) e impacto recessivo na produção mundial, após um primeiro impacto de retrocesso na geração e apropriação de riqueza, de janeiro até maio, a recuperação de junho gera um aumento da desigualdade na apropriação pessoal da riqueza altamente concentrada”, constata Julio CGambina, economista argentino. E questiona: “Fracassa o neoliberalismo ou estas referências especificam a realidade de uma ordem social de privilégio à concentração de renda e riqueza em poucas mãos?” Para ler seu texto clique aqui





Campeãs nacionais conduzem a globalização


A consolidação da globalização desde o fim da Guerra Fria (1947-1991) estabeleceu as bases pelas quais emergiu a nova ordem econômica mundial. Resumidamente, três aspectos principais demarcam o ciclo sistêmico atual de acumulação da riqueza a impactar profundamente as relações hierárquicas no interior do centro econômico dinâmico mundial. Para ler o texto de Marcio Pochmann clique aqui




Covax: Uma bela ideia que não deu frutos 


Uma bela ideia que não deu frutos”. Foi assim que o investigador da Universidade de Duke, Gavin Yamey, descreveu à prestigiada revista científica The Lancet o resultado do projeto para abastecer o mundo todo com vacinas contra a Covid-19. “Os países ricos comportaram-se pior do que os piores pesadelos de qualquer pessoa”, disse Yamey, que trabalhou na concepção do projeto Covax, uma iniciativa liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Para ler o texto de Gilberto Lopes clique aqui




Na pandemia, indústria de suplementos vende falsa imunidade para idosos e aumenta lucros 


Mercado aproveitou vulnerabilidade do grupo de maior risco da Covid-19 e aumentou vendas de produtos que oferecem prevenção de doenças. Para ler o texto de Tatiana Merlino clique aqui


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