segunda-feira, 31 de março de 2014

Mia Couto: repensar o pensamento, redesenhando fronteiras

"A fronteira concebida como vedação estanque tem a ver com o modo como pensamos e vivemos a nossa própria identidade. Essa identidade mora hoje em condomínio fechado. Uma invisível empresa de segurança impede o 'Outro' de entrar nesse espaço que chamamos de 'intimidade'" - Mia Couto

Mia Couto, romancista moçambicano, escreve sobre a fronteira dentro e fora de nós. Fronteira. Palavra que alerta para o limite entre o outro e eu, que questiona a sabedoria do homem de criar “paredes vivas e permeáveis”. Fronteiras que surgem da linguagem bélica e que parecem confirmar o campo de batalha em que vivemos nossa identidade.
Para ler o texto de Mia Couto Clique aqui
Para assistir à Conferência de Mia Couto clique no vídeo aqui

Psicanálise cura tanto quanto homeopatia: entrevista com o filósofo francês Michel Onfray

Conferencista do Fronteiras do Pensamento 2012, o filósofo francês Michel Onfray veio ao Brasil para falar sobre ateísmo, Freud e psicanálise, temas de seu trabalho mais polêmico: Le crépuscule d'un idole, l'affabulation freudienne (O crepúsculo de um ídolo, a fábula freudiana), sem tradução prevista por aqui. No livro, lançado em 2010, Onfray combate a visão de que a psicanálise seria uma ciência, como era o desejo de seu criador. Para o filósofo, ela se aproxima mais de uma religião. Afirmando que a psicanálise cura tanto quanto homeopatia ou que é tão científica quanto a ufologia, a obra é uma crítica radical a Freud e ficou meses na lista dos mais vendidos.
Com cerca de 60 livros publicados, Michel Onfray deixou o ensino público para fundar, em 2002, a Universidade Popular de Caen, na região francesa da Normandia. As aulas da instituição são abertas e gratuitas, sendo depois transmitidas pela rádio France Culture e pela internet. Leia, abaixo, um excerto da entrevista exclusiva concedida por Onfray ao Fronteiras (Eduardo Wolf). O conteúdo aqui divulgado faz parte do terceiro livro da série Pensar, intitulado Pensar o contemporâneo.
Para ler e entrevista de Michel Onfray clique aqui

Confira os vencedores do prêmio de fotografia Sony World Photography Awards

O Sony World Photography Awards de 2014 está imperdível – com certeza, é uma coleção das melhores fotografias tiradas este ano.
A competição mundial finalmente publicou os vencedores do seu concurso, que teve 70.000 inscritos com 139.554 imagens.
A concorrência é dividida em quatro seções principais – Profissional, Aberta, Estudante e Juventude. A maioria destas também é dividida em subcategorias. Definitivamente vale a pena conferir as imagens vencedoras e as listas com melhores fotos, pois seja qual for o tipo de fotografia que você curte, provavelmente vai encontrar lá.
nquanto os vencedores das categorias Aberta e Juventude foram anunciados, bem como para o Prêmio Nacional, apenas listas foram publicadas para as categorias Profissional e Estudante. Os vencedores finais serão anunciados na cerimônia da Sony World Photography Awards em Londres, em 30 de abril.
Os ganhadores receberão câmeras Sony a6000, e bilhetes para voar para a premiação em Londres. O fotógrafo do ano, da categoria Aberta, vai também receber um prêmio de US$ 5.000 (cerca de R$ 11.500)
Para ver as fotos vencedoras nas várias categorias clique aqui

CIA: espionagem, tortura e mentiras

"O que não me deixa dormir à noite é a possibilidade de haver outro atentado contra os Estados Unidos", afirmou a Senadora Dianne Feinstein no mês passado, defendendo como é habitual o amploprograma de espionagem a nível mundial da Agência de Segurança Nacional e de outras agências de segurança dos Estados Unidos. Todo isso mudou agora quando se pensa que a CIA espiou e mentiu aos membros da comissão a que preside, a poderosa Comissão Seleta de Informação do Senado. A comissão foi criada após que o escândalo de Watergate ter provocado a queda do Governo de Nixon. A Comissão de Controle das Atividades dos Serviços de Informação, presidida naquele tempo pelo senador democrata de Idaho Frank Church, realizou uma investigação exaustiva aos abusos cometidos pelas agências de segurança dos Estados Unidos, sobre todas as suas atividades, desde a espionagem de manifestantes opositores à guerra, até ao assassinato de líderes estrangeiros. Assim começou a era moderna da supervisão das atividades de informação e segurança dos Estados Unidos por parte do Congresso e do Poder judicial.
Para ler o texto completo de Amy Goodman clique aqui

Depois de ameaçar abelhas, humanidade passa a conhecê-las

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A humanidade tem explorado colônias de abelhas produtoras de mel desde a pré-história, mas somente nos últimos anos se deu conta de que a importância desses insetos para a sua alimentação vai muito além da fabricação do poderoso adoçante natural.
“O mel é, na verdade, um subproduto pequeno quando comparado ao valor do serviço de polinização prestado pelas abelhas, que corresponde a quase 10% do valor da produção agrícola mundial”, destacou a professora da Universidade de São Paulo (USP) Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, durante palestra no segundo encontro do Ciclo de Conferências 2014 do programa Biota-Fapesp Educação, realizado no dia 20 de março, em São Paulo.
Cientistas estimam que no ano de 2007, por exemplo, o valor global do mel exportado tenha sido de US$ 1,5 bilhão. Já o valor dos serviços ecossistêmicos de polinização em todo o mundo era calculado em US$ 212 bilhões. Os dados foram levantados em diversos estudos e estão reunidos no livro Polinizadores no Brasil: contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável, conservação e serviços ambientais, um dos vencedores do Prêmio Jabuti de 2013.
Para ler o texto completo de Karina Toledo clique aqui

Sobre a crise mundial, Marx e Keynes: alguns comentários pertinentes

No inicio de agosto de 2011, no momento em que escrevo este artigo, a crise capitalista mundial ingressou em seu quinto ano.  Estourou em meados de 2007, quando se declarou a quebra de importantes fundos de investimento aplicados na especulação com ativos imobiliários. Foi o que arrastou Wall Street a uma emblemática queda das cotizações dos valores negociados na principal bolsa de valores do mundo. Alcançou seu apogeu em 15 de setembro do ano seguinte quando foi declarada a bancarrota de um dos maiores bancos de investimento norte-americanos – o Lehman Brothers. Era a ponta do iceberg, o que estava posto então era a situação de emergência do sistema financeiro internacional, à beira de uma quebra generalizada. O establishment mundial se debateu entre uma extensa nacionalização do sistema bancário para tentar manter em pé a atividade econômica semiparalisada ou seu resgate formal mediante uma injeção monu­mental de dinheiro e subsídios que evitasse um colapso terminal.
Para ler o texto completo de Pablo Rieznik clique aqui

Santa Catarina: por que Universidade Federal está ocupada

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Quando tomei conhecimento da invasão da Universidade Federal de Santa Catarina terça-feira (25/3) por policiais federais não identificados, já imaginei o teor das notícias da mídia no dia seguinte tentando dividir os atores em os que são a favor da maconha e os contra. Afinal, uma das formas mais comuns de manipular informações é desviar o foco do principal para uma falsa polêmica e esta mídia é a mesma que apoiou o golpe militar em 64. Vamos reler os fatos.
Em primeiro lugar os policiais que iniciaram a ação, não se identificaram como tal, tampouco tinham ordem judicial para prender gente. Sem se identificar, não estão efetuando uma prisão, estão realizando sequestro exatamente como os que são lembrados às vésperas do aniversário de 50 anos da ditadura militar. Nem o carro em que estavam era identificado. São práticas típicas da polícia política da ditadura. Como saber se o estudante estava sendo preso ou sequestrado? Quem sabe até por narcotraficantes? Além do mais qualquer operação policial dentro de uma Universidade Federal deve ser comunicada à Reitoria antes e negociada de comum acordo. Ninguém pode invadir uma Universidade e sequestrar estudantes. Isto acontecia, repito, na ditadura quando tínhamos um Estado sem leis e os direitos individuais estavam suspensos.
Leia o texto completo clicando aqui

"Sementes de uma nova crise" estão postas, diz Chesnais

Crítico do neoliberalismo, em entrevista concedida por e-mail, após retorno a Paris, Chesnais disse acreditar que a qualquer momento uma nova crise mundial pode ocorrer por conta, sobretudo, da falta de maior regulação sobre o sistema financeiro. Após o colapso mundial de 2007/2008, algumas instituições financeiras "têm feito suas operações ainda mais opacas e difíceis de identificar". Além disso, ressalta que a imensa massa de capital fictício (sem lastro na economia real) leva à perspectiva da existência de apenas recuperações cíclicas de curto prazo em certas economias, como ele acredita que acontece nos Estados Unidos hoje.
Sobre o Brasil, a avaliação do economista é a de que a falta de crescimento mais robusto decorre da reprimarização da economia e pelo fato de o país ter eleito a indústria automobilística como o grande motor do seu desenvolvimento e mantê-la neste papel, mesmo com a perda do seu poder.
Chesnais ganhou notoriedade com o livro "A Mundialização do Capital", publicado no Brasil em 1996 [editora Xamã ]. Ex-diretor da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e professor da Universidade Paris XIII (agora Paris-Nord), ele chamou a atenção para um movimento que se evidenciava de forma mais intensa a partir dos anos 1980: a internacionalização do capital produtivo facilitada pela desregulamentação dos fluxos de capitais e pelo avanço na comunicação e nos transportes.
Com uma interpretação teórica marxista, ele mostrou que este processo propiciou a expansão dos grandes grupos transnacionais que, por meio de fusões e aquisições, aumentaram a concentração da produção, formando oligopólios mundiais em diversos setores.
AtualmenteChesnais finaliza uma edição em inglês de um livro que trará sua interpretação sobre a crise financeira mundial mais recente.
Para ler a entrevista de François Chesnais clique aqui

A incrível atualidade de documentário sobre Roberto Marinho

O documentário “Muito Além do Cidadão Kane”, de 1993, é uma daquelas obras com a rara capacidade de ficar mais atuais à medida que o tempo passa — um, por sua qualidade, dois, pela falta completa de algo parecido.
Conta a história de Roberto Marinho e da Globo. Nos 50 anos do golpe, ajuda a compreender uma relação umbilical e uma, digamos, retroalimentação em que uma das partes teve fim — a ditadura — e a outra seguiu firme e forte.
“Beyond Citizen Kane” foi produzido pelo Canal 4 britânico e dirigido por Simon Hartog, cineasta independente que começou a carreira nos anos 60. Hartog morreu quando o filme estava sendo editado. Não pôde ver seu impacto.
Foi exibido na Inglaterra. A Globo tentou comprar os direitos para se livrar dele, mas Hartog já havia se precavido contra isso numa cláusula. Em seguida, entrou na Justiça para proibir sua exibição no MAM do Rio em março de 1994 — e ganhou, naturalmente. Os pôsteres foram recolhidos pela polícia.
Para ler o texto completo de Kiko Nogueira e assistir ao documentário clique aqui

O Manifesto e a história universal

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Relendo o Manifesto Comunista a cento cinquenta anos de sua publicação, procuramos nos interrogar sobre as novidades teóricas e políticas fundamentais apresentadas pelo texto de Marx e Engels. Estas novidades não residem na tomada de consciência da não naturalidade do conflito social entre proletariado e burguesia, nem na afirmação de que este conflito foi precedido historicamente pela luta de classes entre escravos e senhores e entre servos da gleba e proprietários feudais. Alguns anos antes, Tocqueville havia sintetizado a situação de Inglaterra nesses termos: “aqui, o escravo, lá o patrão; aqui, a riqueza de alguns; lá, a miséria da maioria”. Em seguida, o liberal francês chegou a advertir para o perigo das “guerras servis”.
Assim, a condição operária se encontra comparada à escravidão. Antes de Marx e Engels, esta comparação era feita, de maneira consciente, pelos pensadores liberais. Locke não teve nenhum problema para constatar que a maior parte da humanidade havia sido “transformada em escrava” pelas condições objetivas de vida e de trabalho. Mandeville não tinha nenhuma dúvida de que a “parte mais pobre e mais desprovida da nação” estava destinada para sempre a executar um “trabalho sujo e semelhante ao de um escravo”. E foram os próprios discípulos de Cobden e de Bright que compararam os operários fabris a “escravos brancos”. Neste caso, era absurdo — concluiu Benjamin Constant — conceder direitos políticos ao trabalhador assalariado: ele está privado da “renda necessária para não viver na total dependência da vontade de outro”; “os proprietários são os senhores da existência do trabalhador assalariado, porque podem recusar o trabalho deste”.
Para ler o texto completo de Domenico Losurdo clique aqui
Leia o texto “A geografia do Manifesto de David Harvey” clicando aqui

E se os bancos entrarem em extinção?

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A atividade bancária, na forma em que a conhecemos, está começando a parecer mais ultrapassada que uma impressora matricial.
Na China, os consumidores estão depositando suas poupanças em empresas de Internet, ao invés de bancos. Nas Filipinas, uma classe média emergente paga suas despesas utilizando-se de uma nova cepa de financiadores, baseados em redes sociais. Nos Estados Unidos, um terço dos integrantes da geração nascida a partir de 1980 dizem que esperam usar serviços financeiros baseados em tecnologia, ao invés de bancos. Ao mesmo tempo, 71% afirmam que “prefeririam ir ao dentista, ao que os bancos dizem”.
Para ler o texto completo de Kavin Maney clique aqui

domingo, 30 de março de 2014

Artista cria 'museu aquático' com esculturas no fundo do mar

Obras, nas águas de balneários mexicanos, atraíram a formação de recifes de corais. - 1 (© Copyright British Broadcasting Corporation 2014)
Há anos o artista Jason deCaires Taylor vem construindo estátuas em tamanho real e colocando-as no fundo do oceano. Ele criou um grande museu subaquático chamado Musa, nas águas ao redor de Cancún, Isla Mujeres e Punta Nizuc, no México.
Para ler sua entrevista clique aqui
Para ver o seu trabalho artístico no fundo do mar clique aqui

O problema não é o decote, é o poder

Arquivo
A pesquisa do IPEA "Tolerância social à violência contra as mulheres" revela um quadro macabro sobre a disposição delinquente de abusar mulheres, no Brasil. Pesquisas baseadas em sistema de indicadores de percepção têm por objeto um conjunto necessariamente vago e confuso de crenças, desejos, conhecimentos mais ou menos refletidos e quase nunca científicos; a percepção é um pântano, algo necessariamente obscuro. Valem como uma fotografia borrada. Ainda assim, a pesquisa tem questões muito claras e respostas, idem.
Para a maioria dos brasileiros, se usamos decote é porque merecemos ser violadas. Para a maioria dos brasileiros, e isto é mais grave, também devemos obedecer aos machos, dentro de casa. Como toda sociedade é, por definição, entre outras possíveis, um balaio de crenças contraditórias e calamitosas entre si, a maioria defende que o marido abusador deve ser punido. A tolerância com o abuso é que se destaca: que tipo seria o caso, para merecer a denúncia numa delegacia, já que a maior parte acha que os conflitos conjugais devem ser resolvidos dentro de casa? Ora, dentro de casa, diz a mesma pesquisa, quem manda é o homem. O corolário do convite ao estupro com base no decote é trivial.
Para ler o texto completo de Katarina Peixoto clique aqui

O comprometimento com o ofício do historiador

Arquivo´
Nas últimas semanas, em função das rememorações dos 50 anos do golpe e da implantação da ditadura civil-militar brasileira, inúmeros eventos têm sido realizados para avaliar interpretações historiográficas, refletir sobre as políticas de memória implantadas pelo Estado, denunciar a impunidade dos agentes da repressão, e homenagear e lembrar resistentes e aqueles que foram mortos e desaparecidos.
Da mesma forma, proliferam-se lançamentos editoriais e reimpressões de obras clássicas, oferecendo ao público desde abordagens revisionistas, visões consagradas e novas abordagens que problematizam conceitos, cronologias e protagonismos. Não faltaram, também, manifestações editoriais de militares, militantes, e também de historiadores, sobre a efeméride. Este texto faz referência a um pronunciamento em especial, feito pelo professor Ronaldo Vainfas, da Universidade Federal Fluminense, em sua página pessoal no Facebook, e compartilhado em outros espaços na rede.
Para ler o texto completo de Caroline Silveira Bauer clique aqui

Legalizar a planta, para combater o crime

Relatório-sugere-possibilidade-de-legalização-da-maconha-nas-Américas
Eu sou contra a liberação da maconha. Sempre fui. E o projeto que protocolei também é contra a liberação. Atualmente, a maconha no Brasil está liberada, apesar de formalmente proibida. A escalada do poder do tráfico é prova irrefutável que, sim, ela e outras drogas estão liberadas!
Mesmo em meio a uma caríssima guerra às drogas, o Estado permitiu, se fazendo de cego, que o crime organizado dominasse áreas inteiras, se instalasse e se fortalecesse com toda sorte de armamento e influência política dentro do próprio Estado. A CPI das milícias, empreendida pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL/RJ) é outra prova inconteste da influencia das facções criminosas dentro do próprio Estado. Mas nada disto parece claro a quem defende o fortalecimento de uma lei antidrogas cara, fascista e homicida.
Vivendo acima da lei, tais facções experimentam a verdadeira reserva de mercado, e seus agentes públicos, responsáveis pela manutenção da tranquilidade de seu funcionamento, são muito bem pagos. Assim o Estado, informalmente, já pratica a liberação e o controle sobre o comércio de drogas. Contraditório, não? Pois é, não parece a muitos.
Para ler o texto completo de Jean Wyllys clique aqui

"Brinquedo Sério" - Alice Ruiz




Brinquedo Sério

Eu só brinco
Quando é muito sério 
Ser o teu brinquedo
Não tem mistério
Não tem segredo
Quando a gente brinca
Quando a coisa é séria
Quando o teu limite
É tão perfeito
Quando ser brinquedo
Pode ser tão sério
Pode haver um dia
Em que a poesia
Mude de endereço
Deixe apenas tédio
Mas enquanto isso
Vem brincar comigo
Vamos até onde
Possa ser só riso
Possa ir tão longe
Possa ser tão lindo
Pode ser brinquedo
Pode ser tão sério

Alice Ruiz

Um novo projeto de Educação - Entrevista a José Pacheco e Denis Papler

O professor português José Pacheco, um dos idealizadores da Escola da Ponte em Portugal, volta ao Educação Brasileira para falar sobre o andamento das comunidades de aprendizagem no Brasil. Residente no país há oito anos, o educador participa de vários projetos em parceria com secretarias municipais e estaduais. Segundo ele, há pelo menos cem escolas brasileiras que trabalham sob a influência dos preceitos desenvolvidos na Ponte: alunos escolhem o que e com quem estudar, debruçam-se sobre projetos, convivem integralmente com estudantes de idades diferentes e a sala de aula deixa de existir como ambiente de ensino padronizado. Denis Plapler, criador do Portal do Educador e um dos responsáveis pela Rede Nacional de Educação Democrática, fala das discussões do grupo sobre um novo jeito de pensar a escola. Ele faz parte da coordenação do Colégio Viver, em Cotia.
Para escutar a entrevista de José Pacheco e Denis Papler clique no vídeo aqui

Somos educados para o analfabetismo econômico

Arquivo
A agência Standard & Poors, uma das que fazem classificação de risco de países e empresas, alterou a nota do Brasil para pior: de BBB para BBB-.
E se alguém acha que esse é um debate econômico, está redondamente enganado. A economia continua sendo um assunto importante demais para ficar restrito aos economistas.
A elevação ou o rebaixamento da nota de um país são entendidas, mundo afora, como um sinal do quanto um país é rentável e confiável.
Confiável segundo agências de classificação especializadas em dizer aos grandes financistas internacionais onde investir seu dinheiro para obter maiores lucros, com a garantia de que não tomarão um calote.
Para ler o texto completo de Antonio Lassance clique aqui

O jornalismo de hoje: uma escolha entre o mercado e as pessoas

Arquivo
Por ser uma pessoa com uma longa carreira na profissão, me foi pedido para proporcionar às novas gerações minha opinião sobre o que é o jornalismo.
O fato é que, em pouco mais de uma geração, o jornalismo viveu profundas mudanças. Cabe recordar que ele foi criado pelas elites. No apogeu da era colonial, o Times de Londres tinha uma circulação de apenas 50 mil exemplares, todas para a elite e os funcionários públicos do Império Britânico.
O jornalismo só se transformou em um meio de “massas” quando, no século 19, os Estados Unidos receberam uma onda de imigrantes e precisaram adaptar seu jornalismo às necessidades de seu “cadinho de culturas”, no qual milhões de pessoas de diferentes lugares e antecedentes tiveram que se adaptar a ou assumir a identidade americana.
É assim que surge o jornalismo moderno, com sua bagagem das denominadas “técnicas” devidamente estudadas nas escolas de jornalismo. Por exemplo: todas as notícias devem conter um “quem, onde, quando e como” ou “se um cachorro morde um homem não é notícia, mas se um homem morte um cachorro, é”, e assim sucessivamente. No entanto, após uma análise cuidadosa, essas técnicas não ensinam como ser um jornalista melhor, mas indicam como empacotar a informação da maneira mais clara e atraente para o leitor médio.
Para ler o texto completo de Roberto Savio clique aqui

Escolas de Nova York têm maior índice de segregação racial dos EUA

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"Alunos das escolas públicas da cidade estão cada vez mais isolados em grupos étnicos, econômicos e sociais, evidenciando a severa segregação racial de Nova York". Está é a conclusão do estudo divulgado nesta quinta-feira (27/03) pela UCLA (Universidade de Los Angeles, Califórnia) sobre a educação norte-americana. A pesquisa foi feita entre 1989 e 2010 e revela que os problemas educacionais da cidade estão intimamente ligados "à perpetuação da pobreza, à discriminação policial com negros e, principalmente, à separação entre negros e brancos nas escolas."
Para ler o texto completo de Dodô Calixto clique aqui

Nariz fino de Anitta; axilas "descoladas" de Madonna

madonna-pelos
A semana que se encerrou ontem foi quentíssima para divergências, debates e confusões em torno de padrões estéticos. No começo dela, Madonna publicou uma foto em seu instagram onde mostrava axilas peludas. No finzinho, o Fantástico entrevistou a cantora Anitta sobre suas mais recentes cirurgias plásticas. Em comum e no centro da questão estão padrões estéticos. Afinal de contas: a escolha de Anitta é pior do que aquela feita por Madonna? É possível um olhar feminista que não culpabilize nem condene a escolha individual nesses dois casos?
[Parênteses fundamentais aqui: jamais teríamos essa discussão sobre a decisão de Michel Teló se depilar ou ficar peludo, ou sobre as plásticas do John Travolta, que fique claro. Esse ponto específico da questão já é suficiente para um outro texto inteiro; desta vez decidi me concentrar sobre outro aspecto da coisa. Fecha parênteses.]
Nenhuma discussão que compare essas duas mulheres sem atenção às especificidades de cada uma pode ser produtiva. Anitta e Madonna, além de consoantes repetidas na grafia da última sílaba, têm pouco em comum e partem de lugares bem diferentes.
Para ler o texto completo de Marília Moschovich clique aqui

As filhas e os filhos das vítimas da ditadura militar no Brasil

Arquivo do SNI
Quando Carlos Alexandre Azevedo, filho de Dermi Azevedo e Darcy Andozia, suicidou-se em fevereiro de 2013, e sua trágica história foi amplamente divulgada, muita gente se espantou ao saber que no Brasil, na década de 1970, crianças foram levadas para os locais (DOPS, DOI-CODI etc.) onde seu pai ou sua mãe (ou os dois) estava(m) sendo torturado(s), para assistirem o sofrimento e servirem de pressão adicional – a ameaça de também serem torturadas desmontava de vez os presos, que acabavam falando o que os criminosos queriam saber.
Milhares de militantes políticos de esquerda, em março de 1964, tinham filhas e filhos ainda pequenos. Vários, dentre os mais conhecidos, tinham também netos e netas. Quando ocorreu o golpe militar, de 31 para 1º de abril, essas milhares de crianças  tornaram-se alvo da repressão, e ingressaram em um mundo novo, de medo, fuga e perseguições – cheio de segredos sussurrados, senhas, codinomes, “ponto”, “aparelho”, “queda” e outras variáveis importantes, que constituíam a terminologia da clandestinidade, espécie de universo paralelo ao qual a maioria desses militantes e suas famílias submeteram-se para poder continuar vivendo e atuando no país.
Para ler o texto completo de Milton Pomar clique aqui

Outra visão sobre Ninfomaníaca

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Joe, a personagem principal de Ninfomaníaca, não é louca ou alienada, mas seu comportamento ou modo de vida é patologizado pela psiquiatria. Sua doença? O sexo compulsivo. Numa época em que a norma ou o normal significam nada menos que a produção e multiplicação das patologizações, das classificações intermináveis dos modos de vida como doenças possíveis, Joe é a resistência da vida que não se deixa capturar pelo discurso médico-psiquiátrico, isto é, em certo sentido, o discurso moral. De maneira que seus modos de subjetivação (isto é, como Joe se constitui como sujeito moral, racional, sexual etc no interior da sociedade) questionam o padrão, a norma, a pretensa igualdade entre os seres: a concretude da existência contra a abstração metafísica, tal é a luta que está em jogo em Ninfomaníaca.
Para ler o texto completo de Bruno Lorenzatto clique aqui

Moldamos cidades ou elas nos moldam?

Em 1967, o arquiteto grego Constantinos Apostolos Doxiadis criou o termo Ecumenópolis, referindo-se à ideia de que, no futuro, as áreas urbanas e as metrópoles seriam fundidas numa única e gigantesca cidade global, em razão da urbanização e do crescimento populacional, num processo de crescimento sem limites. A imagem foi bastante apropriada pela literatura e por filmes de ficção científica.
Em nossa dimensão, as grandes cidades parecem saltadas de uma mesma ficção. Os prédios e ruas que rasgam suas fisionomias cabem dentro de um mesmo molde – de onde se fabricam os skylines homogêneos que se espalham pelo globo. Os problemas gerados por essa homogeneidade, também. Com a migração para os centros urbanos, acentuada a partir da segunda metade do século XX, a escala tornou-se a rapidez para os carros, espaços “introvertidos”, capazes de garantir privacidade e segurança, e a supressão dos chamados espaços públicos.
A cidade moderna foi concebida como uma espécie de máquina, onde fluxos são pensados de maneira a garantir eficiência e rapidez, e casas são “máquinas de morar”, na concepção do arquiteto Le Corbusier. Em 1922, este apresentou a Ville Contemporaine, primeiro estudo urbanístico estruturado e que trazia já em seu centro as questões da mobilidade. Essa cidade passa a ser o lugar menos aprazível para o flâneurde Baudelaire, tendo seus espaços públicos transformados em “não lugares”, em locais de passagem em função da mobilidade rápida.
Para ler o texto completo de Mônica C. Ribeiro clique aqui

Tensão e medo sobre um mar de petróleo

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Há tempos o regime saudita é considerado um pilar da estabilidade política no Oriente Médio, um país que sempre exigiu respeito e prudência de todos os seus vizinhos. Isso não é mais verdade, e os primeiros a reconhecer isso são personagens internos importantes do regime. Hoje, eles sentem-se ameaçados de todos os lados e bastante temerosos sobre as consequências da agitação no Oriente Médio com relação à sobrevivência do regime.
Essa reviravolta é resultado da história da Arábia Saudita. O próprio reino não é muito antigo. Foi criado em 1932 por meio da unificação de dois reinos menores na península árabe, Hejaz e Nejd. Era uma parte pobre e isolada do mundo, que havia acabado de se libertar do governo otomano durante a Primeira Guerra Mundial e acabara sob a égide paracolonial da Grã-Bretanha.
O reino foi organizado em termos religiosos por uma versão do Islã Sunita chamada Wahabismo (ou Salafismo). Wahabismo é uma doutrina puritana muito rígida, conhecida não apenas por sua intolerância diante de religiões diferentes do Islã, mas também em relação a outras versões do próprio Islã.
Para ler o texto completo de Immanuel Wallerstein clique aqui

sábado, 29 de março de 2014

"Limites do Amor" - Affonso Romano de Sant’Anna

Limites do Amor

Condenado estou a te amar
nos meus limites
até que exausta e mais querendo
um amor total, livre das cercas,
te despeça de mim, sofrida,
na direção de outro amor
que pensas ser total e total será
nos seus limites da vida.
O amor não se mede
pela liberdade de se expor nas praças
e bares, sem empecilho.
É claro que isto é bom e, às vezes,
sublime.
Mas se ama também de outra forma, incerta,
e este o mistério:
- ilimitado o amor às vezes se limita,
proibido é que o amor às vezes se liberta.

Affonso Romano de Sant’Anna

O contra-ataque dos super-ricos

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F. Scott Fitzgerald cunhou uma famosa, “Os ricos são diferentes de você e de mim”. Pronunciou-a em uma época, os primeiros anos do século 20, em que os ricos não estavam sujeitos ao escrutínio público e em geral eram objeto de inveja, não de ressentimento.
Avançando rapidamente até o século 21, temos o movimento Occupy Wall Street, que, para denunciar a crescente desigualdade social, saiu às ruas em setembro de 2011, no distrito financeiro de Nova York, em nome dos 99% dos norte-americanos que possuem 60% da riqueza nacional frente ao 1% que possui 40%.
Seu êxito repercutiu em todo o mundo; mas agora, os ricos estão contra-atacando.
Para  ler o texto completo de Roberto Savio clique aqui

Silêncio de militares não é compatível com a democracia

Uma das principais pesquisadoras da era Vargas e da ditadura militar, a cientista política Maria Celina D’Araújo critica o silêncio das Forças Armadas sobre os crimes da ditadura de 1964.
“É surpreendente que, 50 anos depois do golpe, as Forças Armadas ainda tratem os crimes da ditadura como um segredo de Estado”, diz.
Professora da PUC-Rio, ela é coautora da entrevista histórica em que o presidente Ernesto Geisel (1907-1996) disse que a tortura “em certos casos torna-se necessária para obter confissões”.
Para ler a entrevista de Maria Celina D’Araújo clique aqui

MÍDIA & CIÊNCIA: Os três biomas brasileiros

Nos últimos anos, o termo “bioma” passou a ser usado pela imprensa brasileira com bastante frequência – ver, por exemplo, as matérias “Cerrado pode sumir em 2060” , de Juliana Boechat, publicada no Correio Braziliense, em 23/10/2009; “Cresce área plantada com soja no bioma Amazônia” , de Célia Froufe, publicada na revistaVeja, em 13/10/2011; “Centro da cidade era coberto por esse tipo de bioma” , de “R. B.”, publicada no Estado de S. Paulo, em 16/10/2011; e “Desmatamento na mata atlântica é o maior desde 2008”, de Fernando Tadeu Moraes, publicada na Folha de S.Paulo, em 4/6/2013.
A palavra, ao que parece, passou a ocupar no jargão jornalístico o espaço anteriormente dado a expressões como “paisagem”, “vegetação”, “formação” ou mesmo “região biogeográfica”. Ocorre que em todos os exemplos acima – e em muitos outros – o termo está sendo usado de modo inadequado, induzindo o leitor não familiarizado com o assunto a erros e mal-entendidos.
Esse lado do problema, no entanto, não chega a surpreender; afinal, repórteres em geral costumam reproduzir aquilo que ouvem das fontes. O que mais preocupa talvez seja perceber que o uso inadequado do termo ganhou ares de “oficial”, tal a facilidade com que aparece em materiais divulgados por órgãos governamentais, como o Ministério do Meio Ambiente (e.g., ver aqui) e o próprio Ministério da Educação.
Para ler o texto completo de  Felipe A. P. L. Costa clique aqui

A sociedade da hipercomunicação

É verdade que o processo de globalização do livre mercado e do sistema democrático são as evidências mais significativas na transição do século 20 para o século 21. A tese de Francis Fukuyama [o escritor norte-americano Francis Kukuyama escreveu em 1992 O Fim da História e o Último Homem (Gradiva, 1999) em que apresentava a ideia de que a humanidade teria chegado ao “fim da história” pelo fato de que o modelo da “democracia liberal” teria se tornado o modelo hegemônico e definitivo] parece que estava certa. Além de dominar o mundo ocidental, a democracia conquistou uma significativa fatia do mundo árabe e, apesar dos tropeços provocados pelo estouro da bolha imobiliária e da bolha financeira, em 2008, nos EUA e na Europa, não podemos negar que o sistema capitalista ampliou seus poderes ao se transformar no regime de governo praticamente universal, catequisando, a partir de meados do século 20, a quase totalidade dos estados-nações do mundo, incluindo o continente asiático e africano.
Mesmo que os monetaristas prescrevam uma maior austeridade dos governos e os desenvolvimentistas acreditem que a melhor receita ainda seja o investimento social, a tônica dos sistemas de governo continua sendo a preservação dos princípios do livre mercado e da democracia, como valores imperativos, numa manifestação categórica de que, apesar dos dissabores, o regime liberal ainda encontra espaço para continuar se expandindo, tanto em seu espectro como em seu poder. Há, naturalmente, sinais de que o laissez faire e olaissez passer são consideradas forças mais valiosas do que os valores da democracia, num verdadeiro culto à economia, já que tanto as lideranças políticas como os managers econômicos parecem prezar muito mais o sentido da liberdade do que o valor político da igualdade.
Para ler o texto completo de Leandro Marshall clique aqui

Rumo ao fim da guerra às drogas

"A guerra às drogas é um fracasso. O relatório publicado no dia 30 de setembro de 2013 no site do British Medical Journal não deixa nenhuma dúvida: as políticas proibicionistas – associadas ao nome do presidente norte-americano Richard Nixon, que, no dia 17 de julho de 1971, elevou as drogas ao estatuto de “inimigo público número um” – não cumpriram suas promessas. Entre 1990 e 2010, o preço médio dos opiáceos (heroína e ópio) e da cocaína caíram, respectivamente, 74% e 51%, levando em conta a inflação e a melhora da pureza desses produtos. Será o momento de desenvolver outros métodos de luta contra o fluxo de entorpecentes, à imagem dos estados norte-americanos do Colorado e de Washington ou ainda do Uruguai? (Ler artigo na pág. anterior.)
Responder com uma afirmativa não minimiza o problema. Com cerca de 200 milhões de clientes, o mercado da droga movimenta negócios estimados em US$ 300 bilhões por ano, quase o PIB da Dinamarca. Mas a perenidade do problema não deve mascarar evoluções profundas.
Assim como no passado, três países andinos – a Bolívia, a Colômbia e o Peru – asseguram a quase totalidade da demanda mundial de cocaína. O Afeganistão ainda produz mais de 80% dos opiáceos vendidos no mundo. Além disso, uma parte crescente desses produtos com destino à Europa transita pelo continente africano, com efeitos desestabilizadores para as economias e instituições locais. 
Para ler o texto completo de François Polet clique aqui

Resposta ao artigo "Desafios do Feminismo"

[A autora deste texto escreveu para a Folha de S.Paulo sobre artigo de Helio Schwartsman, “Desafios do feminismo”, publicado em 14/03/2014. Não obteve resposta.]
Caríssimo Helio,
O senhor resolveu se apropriar do lugar de fala das mulheres que há anos militam nas diversas frentes feministas sem o mínimo de esforço de estudá-las antes de falar por nós quais são os nossos desafios. Exatamente na sua atitude é que se encontra um dos maiores desafios do feminismo atual: homens falando por nós o que queremos e como devemos atingir nossos objetivos. Muito obrigada pela sua opinião, mas ela está completamente distante da realidade sobre a qual debatemos e intervimos.
O senhor afirma que “Se restam mecanismos discriminatórios, são todos favoráveis à mulher como a dispensa do serviço militar obrigatório e a aposentadoria precoce.” Acreditamos que o serviço militar não deveria ser obrigatório para ninguém. No entanto, as próprias concepções relacionadas à masculinidade (força, coragem, valentia, agressividade, lógica) que os colocam em posição de serem escolhidos para morrer por uma instituição falida. Temos 17 estupros por dia apenas no Rio de Janeiro, sabemos que uma em cada quatro mulheres sofrerá abuso sexual antes dos 18 anos em suas vidas e, “só” por isso, não poderemos lutar pela causa de vocês. A aposentadoria precoce se dá também pelo fato da sociedade patriarcal ter construído o homem como o provedor e pelo fato de as mulheres terem dupla jornada de trabalho graças à não divisão do trabalho doméstico. O machismo também é ruim para os senhores: Bem-vindo à luta.
Para ler o texto completo de Mayara Davy Bello de Freitas clique aqui

Escutem o louco

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De repente, o taxista aumentou o som da pequena TV acoplada no console do carro. No banco de trás, eu parei de ler e afinei os ouvidos. Era meio-dia da sexta-feira de Carnaval (28/2). O homem que, dias antes, havia empurrado uma passageira nos trilhos do metrô de São Paulo tinha sido preso. A mulher teve o braço amputado. O agressor sofre de esquizofrenia, destacou o apresentador de TV. “Louco”, decodificou de imediato o taxista. Doença triste, disse o apresentador na TV. Ao ser preso, continuou o apresentador, o agressor afirmou que a empurrou porque sentiu raiva. Essa parte o taxista não escutou. Algo lá fora o havia perturbado. Colou a mão na buzina, abriu a janela do carro e xingou o motorista ao lado, que tentava mudar de pista. Perdigotos saltavam da sua boca enquanto ele empunhava o dedo médio com uma mão que deveria estar no volante. Fechou a janela, para não perder a temperatura do ar-condicionado, e voltou a falar comigo. “A polícia tem de tirar os loucos da rua”. A quem ele se refere, pensei eu, confusa, olhando para fora, para dentro. Era ao louco do metrô.
Para ler o texto completo de Eliane Brum clique aqui

Mulheres: virtuosas ou perigosas?

Era fácil escolher entre ser virtuosa ou perigosa para cada uma das 7 mil mulheres do povo que marcharam 14 quilômetros de Paris a Versailles para protestar pela falta de pão e dos seus direitos.
Perigosas, elas puxavam os canhões, empunhavam armas e tricotavam nos tribunais como pretexto para ouvir os testemunhos e denunciar fingidores ou traidores. Prenderam o rei Luis 16 e o obrigaram a governar de Paris e não do Palácio de Versailles onde sua mulher Maria Antonieta vivia de futilidades caríssimas, alheia à falta de alimentos no país. Essas mulheres, a maioria analfabeta – peixeiras, costureiras, lavadeiras, feirantes – fizeram história e inspiraram as gerações que hoje desfrutam igualdade e liberdade.
Elas são o foco do livro de Tânia Machado Morin, Virtuosas e Perigosas – As Mulheres na Revolução Francesa(Alameda), que acaba de ser lançado em São Paulo e dia 9 de abril terá noite de autógrafos no Rio, na Livraria Argumento. O objetivo foi tirar da obscuridade as francesas pioneiras da luta pelo divórcio e pela igualdade de direitos na Constituição. E para provar que o mundo era muito mais masculino antes de 1789. Os homens ficaram tão ameaçados diante da força feminina que extinguiram os 60 clubes políticos femininos quatro anos depois da Revolução, em 1793, e em 1795 proibiram reuniões de mais de cinco mulheres em qualquer lugar do país.
Para ler o texto completo de Norma Couri clique aqui

Prisões suecas: aqui se reabilitam seres humanos

Quando Alexander Petrovich, assassino confesso de sua própria mulher, viu-se encarcerado entre as paredes de um presídio na Sibéria, passou a conhecer o dia-a-dia, detalhes e hábitos deste sistema. E escreveu as seguintes linhas em seu diário pessoal: “não resta dúvidas de que o tão gabado regime de penitenciária oferece resultados falsos, meramente aparentes. Esgota a capacidade humana, desfibra a alma, avilta, caleja e só oficiosamente faz do detento ‘remido’ um modelo de sistemas regeneradores”. Se Alexander e sua história pertencem ao romance Recordações da Casa dos Mortos, de Dostoievski, publicado em 1860, seu drama ainda pode ser considerado absurdamente atual.
As recentes notícias sobre o fechamento de quatro prisões suecas reabriram discussões sobre a forma como lidamos com nossos detentos. Isto porque a falta de presos no país nórdico é atribuída principalmente à forma de organização de seu sistema penitenciário, que conta com investimentos na reabilitação dos prisioneiros; adoção de penas mais leves em delitos relacionados a drogas; e revisões judiciais que optam por penas alternativas em alguns casos, como liberdade vigiada. Em situação semelhante, a Holanda já havia anunciado em 2012 a necessidade de fechar oito prisões e demitir mais de mil funcionários – pelo mesmo motivo: suas celas estavam praticamente vazias. O que tem a nos dizer estes países?
Para ler o texto completo  de Cibelih Hespanhol clique aqui

EUA e os direitos humanos na América Latina

Arquivo
Tempos atrás apareceu o informativo anual sobre direitos humanos no mundo realizado pelo Departamento de Estado norte-americano. Na América Latina, o Equador se somou à lista de violadores dos direitos humanos na qual Venezuela e Cuba estão há dez anos de forma ininterrupta. Que países do continente não aparecem no documento e por qual motivo? Por que Honduras, país com crescente perseguição a jornalistas e a trabalhadores rurais desde o golpe de 2009, foi retirada dos casos “preocupantes” para os Estados Unidos? O caso paradigmático é o da Colômbia.
No início de março, o Secretário de Estado John Kerry apresentou diante da opinião pública internacional o relatório anual de direitos humanos na América Latina, por meio do qual os Estados Unidos se outorgam a condição de “fiscal” das democracias em nosso continente, observando o desempenho das mesmas. No polêmico texto, o Equador é integrado à lista de países que, a partir da  avaliação do Departamento de Estado, desrespeitam os direitos humanos em nosso continente. A entrada do país governado por Rafael Correa nesta lista seria a suposta diminuição das liberdades de expressão, de imprensa e de associação no país. 
Para ler o texto completo de Juan Manuel Karg clique aqui

'A luta armada se esqueceu de fazer consulta ao povo', afirma historiador Daniel Aarão Reis

O historiador e ex-guerrilheiro Daniel Aarão Reis Filho em seu apartamento em Laranjeiras, no Rio

Daniel Aarão Reis participou no processo pós-independência de Moçambique. Contratado em janeiro de 1976, exerceu o cargo de professor de história contemporânea no Departamento de História, Faculdade de Letras, da Universidade Eduardo Mondlane, tendo sido chefe do Departamento de História entre 1977 e 1978. A foto abaixo foi tirada em Moçambique com outros exilados brasileiros.

Para não esquecer 1968 - Exilados, Daniel Aarão Reis, Reinaldo Melo, Juarez, Sonia Ramos e Paulo Spiller

foto daniel de andrade simões

Exilado, passou por Cuba, Chile (de Salvador Allende), México, Panamá, França, Argélia e Moçambique. Com a Lei de Anistia, retornou ao Brasil. Um dos historiadores brasileiros mais lúcidos. Possui diversos livros e artigos publicados sobre a história da esquerda no Brasil bem como sobre a história da experiência socialista no século XX. Nos anos 60 participou da luta armada contra a ditadura militar, tendo integrado a direção do grupo que decidiu a captura do embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick em troca da libertação de 15 presos políticos. Entre outros, publicou: A revolução faltou ao encontro (1991), De Volta À Estação Finlândia (1993), A Aventura Socialista no Século XX (Editora Atual, 1999), História do século XX (Civilização Brasileira, 2000), Ditadura Militar, Esquerdas e Sociedade (Jorge Zahar Editor, 2000), As revoluções russas e o socialismo soviético (EDUNESP, 2003), Imagens da Revolução (Expressão Popular, 2006), Uma revolução perdida (Perseu Abramo, 2007, 2ª edição), Modernidades Alternativas (FGV, 2008).
Falar em ditadura militar esconde a participação de civis no golpe e no regime instalado em 1964, afirma o historiador Daniel Aarão Reis. Aos 24 anos, ele integrava o comando da Dissidência Universitária da Guanabara, que idealizou o sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick para libertar presos políticos. Aos 68 anos, considera que a luta armada fracassou por falta de apoio popular. O professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) acaba de lançar "Ditadura e Democracia no Brasil" (Zahar).
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