"Os vampiros" - Adão Cruz
Os vampiros
A cidade está comida por enormes vampiros, varrida de
poesia, flores e frutos e canções quentes dos filhos da cidade.
Ainda que os dentes sejam de cifrões, os vampiros matam com
bombas, tiros e orações.
Já não regressam as manhãs na cidade exterminada, coberta
pela nuvem de vampiros devoradores que tudo comem e não deixam nada.
A cidade dos pobres está comida por vampiros, vindos das
cavernas podres da cidade civilizada, guiados por deuses e generais, benzidos
por papas e cardeais que tudo comem e não deixam nada.
E os pobres arrastam a vida muito aquém da vida, onde um mar
de nada definha o pensamento e um rio de cinza cobre a alegria de viver.
…
Eis que os pobres se dão conta de um futuro em liberdade,
onde um mar de sonho e utopia restitui a vida ao pensamento e à razão.
Mas os vampiros conhecem bem os buracos da prisão e tudo
fazem para os vedar com grades de fé e religião.
A cidade está comida por enormes vampiros vindos do céu e do
inferno, devorando a mente e abandonando o corpo no deserto, como criança sem
asas.
Adão Cruz
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