domingo, 18 de abril de 2021

"Vertentes" - António Ramos Rosa

 




Vertentes

 



As palavras esperam o sono


e a música do sangue sobre as pedras corre


a primeira treva surge


o primeiro não a primeira quebra




A terra em teus braços é grande


o teu centro desenvolve-se como um ouvido


a noite cresce uma estrela vive


uma respiração na sombra o calor das árvores




Há um olhar que entra pelas paredes da terra


sem lâmpadas cresce esta luz de sombra


começo a entender o silêncio sem tempo


a torre extática que se alarga





A plenitude animal é o interior de uma boca


um grande orvalho puro como um olhar





Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio


sou o teu lábio e a coxa da tua coxa


sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo


sou a sombra que conhece a luz que a submerge




A luz que sobe entre


as gargantas agrestes


deste cair na treva


abre as vertentes onde


a água cai sem tempo



 

 

António Ramos Rosa


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