segunda-feira, 12 de abril de 2021

"Ofício de amar" - Al Berto


 




Ofício de amar

 

 



 

 

 

já não necessito de ti


 

tenho a companhia noturna dos animais e a peste


 

tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio doutras galáxias,


 

                                                                                 e o remorso


 

um dia pressenti a música estelar das pedras, abandonei-me ao silêncio


 

é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração


 

não, não preciso mais de mim


 

possuo a doença dos espaços incomensuráveis


 

e os secretos poços dos nómadas



 

 

 

ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto


 

 

deixei de estar disponível, perdoa-me


 

 

se cultivo regularmente a saudade do meu próprio corpo



 

 

 

 

 

 

Al Berto


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