quarta-feira, 1 de junho de 2022

"Balada para uma mulher" - Joaquim Pessoa

 





Balada para uma mulher

 

 

 

 



Reparem quando ela passa.


Beija os filhos no olhar!


Esta palavra ternura


quem é que a soube inventar?



 

Lá vai ela. Como tem


os lábios cor de romã!


Ela vai. Mas quem bebeu


nos seus seios a manhã?



 

Tem ancas de sofrimento.


É simples como a pobreza.


Nos cabelos dorme o vento


com a palavra tristeza.



 

Lá vai ela. Minha dor.


Égua de prata a correr!


Vai a fingir que o amor


também se pode vender.



 

Lá vai. Lá vai. E que importa


a dor que me nasce a rodos?


Ela vai de porta em porta


vender um pouco de todos.


 


Ela vai. Como se fosse


minha irmã ou minha mãe.


É como o vinho mais doce


e mais amargo também.



 

Lá vai ela. Minha dor.


Égua de prata. Luar.


Vai a fingir que o amor


também se pode pagar.



 

Lá vai. Lá vai. E no peito


rompe uma flor de ciúme.


A raiva cresce no leito


entre lençóis de azedume.



 

Ela vai. É como a luta


de um homem contra a desgraça.


Chamem-lhe flor mãe ou puta


mas não riam quando passa.



 

Lá vai ela. Meu amor.


Égua de prata a morrer!


Vai a fingir que esta dor


também se pode esquecer.

 

 

 

 



Joaquim Pessoa

 


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