domingo, 12 de junho de 2022

"À memória de Josefina" - Guillermo Valencia

 




À memória de Josefina


 

                      I

 



Do que foi um amor, uma doçura


sem par, feita de sonho e de alegria,


ficou apenas a cinza fria


que retém esta pálida cobertura.



 

A orquídea de fantástica formosura,


a borboleta na sua policromia


entregaram a sua fragrância e galhardia


ao fado que fixou a minha desventura.



 

Sobre o olvido minha lembrança impera;


do seu sepulcro minha dor arranca;


minha fé reclama, minha paixão a espera,



 

e devolvo-a à luz, com essa franca


alegria matinal de primavera:


Nobre, modesta, carinhosa e branca!



 

                         II

 



Que te amei, sem rival, tu o soubeste


e o sabe o Senhor; nunca se liga


a erradia hera à floresta amiga


como se uniu teu ser à minha alma triste.



 

Na minha memória teu viver persiste


com o doce rumor de uma cantiga,


e a nostalgia do teu amor mitiga


minha pena, que ao ouvido resiste.



 

Diáfano manancial que não se esgota,


vives em mim, e à minha aridez austera


tua frescura se mistura, gota a gota.



 

Foste no meu deserto palmeira a crescer,


no meu pélago amargo, voo de gaivota,


e só morrerás quando eu morrer.


 

 

 

 



Guillermo Valencia


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