quinta-feira, 8 de setembro de 2022

"Minha desgraça, não, é ser poeta" - Alvares de Azevedo

 





Minha desgraça, não, é ser poeta

 

 

 



Minha desgraça, não, é ser poeta,


Nem na terra de amor não ter um eco,


E meu anjo de Deus, o meu planeta


Tratar-me como trata-se um boneco…



 

Não é andar de cotovelos rotos,


Ter duro como pedra o travesseiro…


Eu sei… O mundo é um lodaçal perdido


Cujo sol (quem mo dera) é o dinheiro…



 

Minha desgraça, ó cândida donzela,


O que faz que o meu peito assim blasfema,


É ter pena para escrever todo um poema,


E não ter um vintém para uma vela.

 

 

 



Alvares de Azevedo

 

 


(Brasil, 1831 – 1852)


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