"Minha desgraça, não, é ser poeta" - Alvares de Azevedo
Minha
desgraça, não, é ser poeta
Minha desgraça, não, é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco,
E meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco…
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro…
Eu sei… O mundo é um lodaçal perdido
Cujo sol (quem mo dera) é o dinheiro…
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que o meu peito assim blasfema,
É ter pena para escrever todo um poema,
E não ter um vintém para uma vela.
Alvares
de Azevedo
(Brasil, 1831 – 1852)
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