sábado, 4 de janeiro de 2014

"Vivo de despir as olheiras do sono" - Eduardo White

“Vivo de despir as olheiras do sono”

 

Vivo de despir as olheiras ao sono. Este trabalho não me deixa

dormir e não há remédio para isto.

Ainda alguém me dará a loucura por pão um dia.

Não é possível que alucine e que obceque tanto

este desejo de ser leve,

de estar longe.

Mas ainda um dia eu terei a asa como vocação,

irei buscar aquela pronúncia nua

e interior das alturas

quando dizemos pássaro ou ave

ou gravitação.

Há uma ambição paciente neste modo de estar,

de querer tocar a vida por cima,

como se nela houvera um cume

ao qual nos é vedado chegar.

(…)

Quero esta humilde e real ilusão,

esta redonda janela intemporal

onde o peso se suspende, flutua

e para onde a vida tende.

 

Eduardo White*

 

In: “Poemas da Ciência de Voar e da Engenharia de Ser Ave”.

*Poeta moçambicano. Obteve o prémio nacional de poesia em 1995. Obra poética: “Amar sobre o Índico” (1984), “O País de Mim” (1989), “Poemas da Ciência de Voar e da Engenharia de Ser Ave” (1992), “Os Materiais do Amor seguido de O Desafio à Tristeza” (1996), “Janela para Oriente” (1999).

 



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