sábado, 1 de maio de 2021

"Interlúdio" - Aurelio Arturo

 




Interlúdio

 


Na cama pela manhã sonhando acordado,


através das horas do dia, ouro ou névoa,


errante pela cidade ou perante a mesa de trabalho,


ou de meus pensamentos em reverente curva?



 

Ouvindo-te de longe, ainda de extremo a extremo,


ouvindo-te como uma chuva invisível, uma geada.


Sentindo-se nas tuas últimas palavras, alta,


sempre no fundo dos meus atos, dos meus signos cordiais


dos meus gestos, meus silêncios, minhas palavras e pausas.



 

Através das horas do dia, da noite


- a noite avara pagando o dia cêntimo a cêntimo -


nos dias que um após o outro são vida, a vida


com as tuas palavras, alta as tuas palavras, cheias de orvalho,


ó tu que recolhes na tua mão a planura de borboletas.



 

Na cama pela manhã através das horas,


melodia, quase uma luz que nunca é súbita,


com o teu ademane gentil, com a tua graça amorosa,


ó tu que recolhes nos teus ombros um céu de pombas.



 

 

Aurelio Arturo


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