segunda-feira, 31 de maio de 2021

"Lágrimas trágicas de Cabo Delgado" - Gonçalo Ferrão


 



Lágrimas trágicas de Cabo Delgado




 

O luto,


Não é esse pedaço de pano que amordaça o teu corpo dorido.


                           Nem as missangas, o cabelo rapado, que enfeita o sonho do passo tolhido


Ou ainda os comunitários sinais de perda de ente-querido,


Na solidão da dor que acompanha teu choro incontido.



 

É mais essa dor aguda no teu peito


com cor de desgraça no pensamento


que faz chorar a alma, sem jeito;


É essa dor que o tamanho vazio abraça


da ausência amiga de sua presença,


E faz sangrar o desespero nos teus olhos molhados


Pela inevitável antecipada partida dela, sem volta aos teus olhos.



 

É esse termómetro enlouquecido da mente,


que mede errado o valor da ausência do abraço dela,


E te faz sentir a toda a hora, tão confusamente,


que ficar sozinho, é mesmo igual a ficar sem ela,


Nessa caminhada ora sem norte,


Sem a luz e o calor do convívio dela.



 

Não, não meu amigo


Tal como ninguém se habitua ao sofrimento


O luto nunca será um indivíduo anónimo


Curtidor de causa alheia no destino


Fim



 

Gonçalo Ferrão

 


Maputo, Moçambique, 28/05/21



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