"Quando foi?" - José Paulo Pinto Lobo
Quando foi?
Desembarco na cidade
velha de mais de um século
Que tal como uma
idosa senhora de traços caídos
Ainda conserva
resquícios de uma beleza antiga
Sinto-me um
alienígena sem passado
Passageiro num
comboio de destino desconhecido
Circulo pelas ruas a
quem furtaram os passeios
Pejados de montinhos
barracas e quejandos
Há informais
vendedores fugindo de ratoneiros polícias
Alunos fardados cães
vadios pedintes e lixeiras
E crianças brincando
nas águas estagnadas
Txopelas txovas e
chapas se atropelando em alucinadas gincanas
No alagável subúrbio
barracas de madeira e zinco ou de blocos de cimento sem reboco
As pessoas se afogam
em babalazes de cerveja e tontonto
Xilonguine cidade de
prédios decrépitos e malcheirosos
Gradeadas gaiolas
para pássaros de olhares vazios que perderam as asas
E de luzentes novos
condomínios escritórios e restaurantes finos
Com guardas
sonolentos em assentos improvisados
Na sombra das
acácias que ainda resistem exibindo suas rubras flores
Por entre os
destroços de uma guerra invisível
Na irreversibilidade
do desconcerto
Uma insistente
pergunta martela minha mente
Quando foi como foi
Que nos
transformamos nisto?
I got to move canta Gran’Mah
Esqueço a tristeza e
aceito o desafio
Danço ao som do seu
jovem reggae
Socorro-me dos
inconformados escritores
Numa mão Museu da
Revolução do João Paulo Borges
Noutra a Literatas
do Eduardo Quive
E assim sigo lendo e
dançando
José Paulo Pinto Lobo
(Poeta moçambicano)
11 de Novembro 2022
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