sábado, 26 de novembro de 2022

"Ariel" - Sylvia Plath

 




Ariel

 

 

 




Ariel


Êxtase no escuro,


E um fluir azul sem substância


De penhasco e distâncias.




Leoa de Deus,


Nos tornamos uma,


Eixo de calcanhares e joelhos! – O sulco




Fende e passa, irmã do


Arco castanho


Do pescoço que não posso abraçar,




Olhinegra


Bagas cospem escuras


Iscas –




Goles de sangue negro e doce,


Sombras.


Algo mais




Me arrasta pelos ares –


Coxas, pêlos;


Escamas de meus calcanhares.




Godiva


Branca, me descasco –


Mãos secas, secas asperezas.




E agora


Espumo com o trigo, reflexo de mares.


O grito da criança




Escorre pelo muro


E eu


Sou flecha,




Orvalho que avança,


Suicida, e de uma vez se lança


Contra o olho




Vermelho, fornalha da manhã.

 

 

 

 



Sylvia Plath

 

 

 


(EUA 1932 – Inglaterra 1963)



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