"Meio-dia (2)" - Adriano Espínola
Meio-dia (2)
O sol tomba,
vertical,
dos edifícios.
Ardem os muros perfilados.
Os objetos vomitam cores,
embriagados.
O vermelho dos sinais ri,
em chamas,
para os carros.
Na calçada,
a luz lambe
as coxas da garota,
penetra no blue-jeans
dos manequins,
irriga de calor
a angústia dos homens.
(Tudo se queima,
tudo se consome,
tudo arde infinito.)
Ó súbita revelação:
o sol me aponta
o carvão íntimo
das coisas,
negro
coração
batendo na claridade.
Adriano Espínola
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