quinta-feira, 24 de novembro de 2022

"Meio-dia (2)" - Adriano Espínola

 



Meio-dia (2)





O sol tomba,


 

vertical,


 

dos edifícios.


 

Ardem os muros perfilados.




 

 

Os objetos vomitam cores,


 

embriagados.




 

 

O vermelho dos sinais ri,


 

em chamas,


 

para os carros.




 

 

Na calçada,


 

a luz lambe


 

as coxas da garota,


 

penetra no blue-jeans


 

dos manequins,


 

irriga de calor


 

a angústia dos homens.




 

 

(Tudo se queima,


 

tudo se consome,


 

tudo arde infinito.)




 

 

Ó súbita revelação:



o sol me aponta


 

o carvão íntimo


 

das coisas,


 

negro


 

coração


 

batendo na claridade.




 

 

Adriano Espínola




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