quarta-feira, 5 de maio de 2021

"Há-de flutuar uma cidade" - Al Berto


 



Há-de flutuar uma cidade



Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida


Pensava eu... como seriam felizes as mulheres


À beira mar debruçadas para a luz caiada


Remendando o pano das velas espiando o mar


E a longitude do amor embarcado




Por vezes


Uma gaivota pousava nas águas


Outras era o sol que cegava


E um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite


Os dias lentíssimos... sem ninguém




E nunca me disseram o nome daquele oceano


Esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas


Punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua


Assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar


Se espantasse com a minha solidão




(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no


Coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)




Um dia houve


Que nunca mais avistei cidades crepusculares


E os barcos deixaram de fazer escala à minha porta


Inclino-me de novo para o pano deste século


Recomeço a bordar ou a dormir


Tanto faz


Sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade




Al Berto


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