terça-feira, 28 de janeiro de 2025

"Lá no lugar que se diz América" - Célio Turino

 



Lá no lugar que se diz América



Lá no lugar que se diz América


o espírito do tempo chega,


estranho,


com promessas que arrebentam sonhos


e erguem pesadelos.


A história insiste em repetir-se,


dizem,


e vem outra vez


com suas máscaras de ferro,


seus gritos de guerra,


seus fantasmas ressuscitados.




Alguns homens


-mulheres também-


erguem a voz,


prometem a verdade única


e o que trazem é sombra,


rancor e silêncio.


Tempos obscuros


dobram a esquina


com palavras


que se vestem de vazio,


como escudo,


dividem o chão


em fronteiras e muros,


ódio e dor.


Tempo de luta


vem por aí.



Verdade, a primeira a ruir


Vejo sombras de gente uniformizada


marchando em seu eterno retorno ao ódio.


Tempo de olhos fechados


e punhos cerrados.


É o Espírito do Tempo que assombra novamente.


Zeitgeist,


depois da farsa, a tragédia,


agora lúgubre.


Tempo de erguer muro


e cavar poço.


Nesse nosso tempo


a verdade é a primeira a ruir.



Quem semeará um ponto de luz?


A história vai e volta,


recomeça como farsa,


como se nunca tivesse sido outra coisa,


vira tragédia


e se repete.


2025,


o mundo em expectativa.


Nós estamos aqui!


Presos na tela,


a um botão que nunca desliga


aguardando um ponto de luz.


Da tela, avistamos o muro,


um eco,


uma sombra,


uma arma…


Da tela, escutamos o grito,


um estrondo,


um espectro…


Que inferno!


A promessa de deportação:


– Façam as malas e saiam enquanto é tempo!”


A promessa de retaliação:


– Uma bomba virá!”


Quantos escombros!


E nós estamos aqui.


Não há verso para o genocídio


transmitido na tela,


a palavra vira pedra,


a pedra vira mapa


de gente que não tem mais chão.


E nós continuamos aqui!


Na tela.


É o espírito do tempo


que volta como farsa e tragédia,


um passado sombrio


que se torna presente,


um vento que sopra


e faz tudo virar cinza.


Quem semeará um ponto de luz


em meio a esse mundo lôbrego?



Célio Turino


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