Vencedora do Nobel diz ser porta-voz dos 'humilhados'
Vencedora do Nobel diz ser porta-voz dos
'humilhados'
ELENA VÁSSINA
ESPECIAL PARA A FOLHA 10/10/2015
Svetlana
Alexievich, 67, estava passando roupa em seu pequeno apartamento em Minsk
(capital de Belarus) quando recebeu a ligação da Suécia e soube que ganhou o
Nobel de Literatura.
Logo
sentiu, confessa, a presença das "sombras dos grandes escritores
russos" vencedores do prêmio (eram cinco antes dela). Autores da
literatura à qual ela pertence como escritora e, também, como porta-voz dos
"humilhados e ofendidos".
Svetlana,
que nasceu em 1948 na União Soviética e sempre escreveu em russo, atualmente
vive em Belarus.
Seu primeiro
livro, "War's Unwomanly Face" (a guerra não tem uma face feminina),
foi escrito em 1983, proibido pela censura soviética e editado dois anos
depois, logo no início da Perestroika.
Em
seguida, a obra se tornou um dos best-sellers incontestáveis da nova época: sua
tiragem chegou a dois milhões de exemplares.
No mesmo
1985, Alexievitch publicou mais um livro sobre a Segunda Guerra. "The Last
Witnesses" (as últimas testemunhas) é composto de relatos de crianças que
passaram pelo conflito.
No foco da
terceira obra, "Zinky Boys" (os meninos de zinco), de 1989, também
está a narrativa de guerra –desta vez a do Afeganistão.
"Voices
from Chernobyl" (vozes de Chernobil), de 1997, é dedicado à catástrofe
atômica nos tempos de paz.
Em
"Second-Hand Time" (tempo de segunda mão), publicado em 2013, é a
quinta obra que conclui o ciclo trágico intitulado pela escritora de
"Vozes de Utopia".
As obras
de Alexievich pertencem à literatura documental, como ela própria diz:
"Escolhi o gênero de vozes humanas... É nas ruas que procuro enxergar e
escutar meus livros. Pessoas reais contam os acontecimentos principais de sua
época: a guerra, o desmoronamento do império soviético, Chernobil. Por meio das
palavras, tece-se a historia do país, a história comum. A nova e a antiga. E
cada pessoa grava a história de seu pequeno destino humano".
LUTUOSO
A
bielorussa diz que leva de quatro a sete anos para escrever um livro.
"Encontro-me com 500 a 700 pessoas, converso com elas e gravo seus
relatos. Minha crônica abrange dezenas de gerações."
Ela começa
com narrações de pessoas que se lembram das revoluções e passaram por guerras e
campos de concentração de Stálin. Chega, então, aos dias de hoje –quase cem
anos depois. "É a historia da alma russo-soviética, de uma grande e
terrível utopia. A ideia do comunismo não morreu apenas na Rússia, mas no mundo
inteiro", diz.
Mas essa
ideia, afirma, "continuará a tentar diabolicamente atrair muitas mentes. E
eu queria deixar os relatos de testemunhas e participantes dessa
história".
As vozes
de centenas de "pequenos homens" (personagem predileta da literatura
clássica russa) unem-se num coro potente e lutuoso. E a força do testemunho
documental é tal que obriga o leitor a sentir essa história trágica como se
fosse a experiência de sua própria vida.
FONTE: Aqui
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