quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Vencedora do Nobel diz ser porta-voz dos 'humilhados'

Belarussian writer Svetlana Alexievich is seen during a book fair in Minsk, Belarus, in this February 8, 2014 file photo. Alexievich won the 2015 Nobel Prize for Literature, the award-giving body announced on October 8, 2015. REUTERS/Stringer/Files TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: GDY386

Vencedora do Nobel diz ser porta-voz dos 'humilhados'

ELENA VÁSSINA

ESPECIAL PARA A FOLHA 
10/10/2015

Svetlana Alexievich, 67, estava passando roupa em seu pequeno apartamento em Minsk (capital de Belarus) quando recebeu a ligação da Suécia e soube que ganhou o Nobel de Literatura.
Logo sentiu, confessa, a presença das "sombras dos grandes escritores russos" vencedores do prêmio (eram cinco antes dela). Autores da literatura à qual ela pertence como escritora e, também, como porta-voz dos "humilhados e ofendidos".
Svetlana, que nasceu em 1948 na União Soviética e sempre escreveu em russo, atualmente vive em Belarus. 
Seu primeiro livro, "War's Unwomanly Face" (a guerra não tem uma face feminina), foi escrito em 1983, proibido pela censura soviética e editado dois anos depois, logo no início da Perestroika.
Em seguida, a obra se tornou um dos best-sellers incontestáveis da nova época: sua tiragem chegou a dois milhões de exemplares.
No mesmo 1985, Alexievitch publicou mais um livro sobre a Segunda Guerra. "The Last Witnesses" (as últimas testemunhas) é composto de relatos de crianças que passaram pelo conflito.
No foco da terceira obra, "Zinky Boys" (os meninos de zinco), de 1989, também está a narrativa de guerra –desta vez a do Afeganistão.
"Voices from Chernobyl" (vozes de Chernobil), de 1997, é dedicado à catástrofe atômica nos tempos de paz. 
Em "Second-Hand Time" (tempo de segunda mão), publicado em 2013, é a quinta obra que conclui o ciclo trágico intitulado pela escritora de "Vozes de Utopia".
As obras de Alexievich pertencem à literatura documental, como ela própria diz: "Escolhi o gênero de vozes humanas... É nas ruas que procuro enxergar e escutar meus livros. Pessoas reais contam os acontecimentos principais de sua época: a guerra, o desmoronamento do império soviético, Chernobil. Por meio das palavras, tece-se a historia do país, a história comum. A nova e a antiga. E cada pessoa grava a história de seu pequeno destino humano".

LUTUOSO

A bielorussa diz que leva de quatro a sete anos para escrever um livro. "Encontro-me com 500 a 700 pessoas, converso com elas e gravo seus relatos. Minha crônica abrange dezenas de gerações."
Ela começa com narrações de pessoas que se lembram das revoluções e passaram por guerras e campos de concentração de Stálin. Chega, então, aos dias de hoje –quase cem anos depois. "É a historia da alma russo-soviética, de uma grande e terrível utopia. A ideia do comunismo não morreu apenas na Rússia, mas no mundo inteiro", diz.
Mas essa ideia, afirma, "continuará a tentar diabolicamente atrair muitas mentes. E eu queria deixar os relatos de testemunhas e participantes dessa história".
As vozes de centenas de "pequenos homens" (personagem predileta da literatura clássica russa) unem-se num coro potente e lutuoso. E a força do testemunho documental é tal que obriga o leitor a sentir essa história trágica como se fosse a experiência de sua própria vida.
FONTE: Aqui

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