sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Quando a História dá suporte ao Humor ou como um episódio humorístico juvenil vira “lenda” para toda uma geração de estudantes dos anos 60 em Moçambique

Colégio de Nossa Senhora da Conceição – Inhambane: local onde ocorreu o episódio aqui relatado


José de Sousa Miguel Lopes

Preâmbulo

Antes de contar o episódio humorístico ocorrido nos anos 60 no Colégio de Nossa Senhora da Conceição de Inhambane (Moçambique, era, então colônia de Portugal), importa uma breve descrição deste colégio (ver foto acima) que era dirigido por freiras/professoras e que era frequentado por alunos e alunas do 1º ao 5º ano do ensino secundário com idades que variavam em entre os 12 e os 16 anos de idade. Os alunos eram externos e algumas alunas eram internas.
Recorde-se que sendo Moçambique uma colônia de Portugal, adotava os currículos da metrópole, pelo que se estudava, por exemplo, a História de Portugal e não a de Moçambique. Para os leitores menos familiarizados com a História de Portugal e para que possam entender o relato verídico que iremos apresentar, importa descrever um episódio famoso que constava e consta até hoje nos livros de História de Portugal e que nenhum aluno desconhecia. Trata-se do chamado “Milagre das Rosas” ocorrido no século XIII.
A personagem central é a Rainha Santa Isabel, casada com o rei D. Dinis. Isabel de Aragão foi uma infanta aragonesa e, de 1282 até 1325, rainha consorte. Ficou para a história com a fama de santa, tendo sido beatificada e, posteriormente, canonizada. Ficou popularmente conhecida como Rainha Santa Isabel ou, simplesmente, a Rainha Santa.
Segundo a lenda portuguesa, a rainha saiu do Castelo do Sabugal numa manhã de inverno para distribuir pães aos mais desfavorecidos. Surpreendida pelo soberano, que lhe inquiriu onde ia e o que levava no regaço, a rainha teria exclamado: São rosas, Senhor! Desconfiado, o rei inquiriu: Rosas, em Janeiro? A rainha expôs então o conteúdo do regaço do seu vestido e nele havia rosas, ao invés dos pães que ocultara. Portanto, estava-se em face de um milagre, o “Milagre das Rosas”, como ficou até hoje inscrito nos livros de História de Portugal.
Turmas do 4º e 5º ano onde está o “artista” do episódio aqui relatado. Não indicarei o lugar onde ele se encontra nesta foto. Apenas os alunos e alunas do Colégio que o conhecem saberão identifica-lo. O autor deste texto está um pouco atrás do lado direito do aluno com blusa de frio com um V desenhado.

O relato do episódio

E agora o episódio humorístico, razão de ser deste escrito.
Numa turma do 4º do ensino secundário (cerca de metade dos alunos estão na foto acima), os alunos com 14 a 16 anos de idade tinham, entre várias malandragens tão habituais nesta irreverente faixa etária, combinado o seguinte: o aluno da turma que tivesse a nota mais baixa na prova de qualquer disciplina teria que ir roubar tangerinas no quintal do colégio para distribuir pelos restantes alunos externos da turma. Aconteceu que numa prova de Matemática o Chiquinho Resende (nome fictício, pois não foi possível contatar com o autor do episódio, para ver se autorizaria usar o seu nome) tirou a nota mais baixa. Conforme o combinado coube-lhe a tarefa de ir roubar as tangerinas. Na época usavam-se as camisas por fora das calças, pelo que era na própria camisa, isto é, na concavidade formada pela camisa que se suspendia (uma espécie de regaço) que se colocava o fruto do roubo, neste caso, as tangerinas. No intervalo de uma das aulas lá vai então nosso “herói” lançado na aventura, enquanto no pátio externo ao edifício, a turma ficava aguardando, em ansiosa expectativa, a chegada das saborosas tangerinas que fechariam, com chave de ouro, o lanche que cada um tinha trazido de casa. Afoito, Chiquinho procurou perscrutar cuidadosamente todo o ambiente circundante ao edifício e ao próprio quintal onde iria ocorrer a operação, para que nada de inesperado pudesse acontecer. E assim, de forma cautelosa alcançou a tangerineira mais carregada de fruta. Subiu pelo tronco e a meio da árvore empoleirou-se, começando a depositar as tangerinas no regaço da camisa. Quando já estava na reta final do roubo, eis que o inesperado aconteceu. Numa janela do 1º andar do edifício, uma aluna viu que o Chiquinho estava empoleirado na tangerineira procedendo ao saque. A aluna empreendeu então um festival de repetidos gritos de “Madre Superiora, o Chiquinho está a roubar tangerinas!” que obrigou o nosso “herói” a lançar-se perigosamente da tangerineira e correr feito louco com o produto do roubo escondido na camisa. No percurso ele teve que enveredar por um corredor interno do Colégio, mas ao virar de uma esquina eis que, surpreendentemente, lhe surge a Madre Superiora acompanhada de duas alunas. Respirando de forma ofegante e segurando a “grávida” camisa, seu aspecto causou, de imediato, uma enorme estranheza.
A Madre, com ar austero, pergunta ao Chiquinho:
- O que levas aí?
- São rosas, responde, de imediato, o Chiquinho.
- Mostra lá, exige a Madre com voz firme.
O Chiquinho abre a camisa, olha para o fruto do roubo e então sua face se transfigura mostrando o ar mais espantado que um ser humano possa revelar. E, em segundos, ele dispara a resposta, uma verdadeira “bomba” que já se tornou lendária, não apenas para os que foram colegas do Chiquinho, mas para todos os alunos do Colégio de várias “gerações”:
- Ohooooooo o milagre não se deu!!!!!!!!
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que aconteceu este episódio, mas quero acreditar que a Madre Superiora e as duas alunas que a acompanhavam estão, até hoje, petrificadas e com a boca espantosamente aberta perante tamanha desfaçatez e rapidez de raciocínio de que deu provas o Chiquinho!


1 comentários:

Anônimo 22 de fevereiro de 2024 às 15:02  



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