Quando a História dá suporte ao Humor ou como um episódio humorístico juvenil vira “lenda” para toda uma geração de estudantes dos anos 60 em Moçambique
Colégio de Nossa Senhora da Conceição
– Inhambane: local onde ocorreu o episódio aqui relatado
José de Sousa Miguel
Lopes
Preâmbulo
Antes de contar o episódio humorístico ocorrido nos anos 60
no Colégio de Nossa Senhora da Conceição de Inhambane (Moçambique, era, então
colônia de Portugal), importa uma breve descrição deste colégio (ver foto acima)
que era dirigido por freiras/professoras e que era frequentado por alunos e
alunas do 1º ao 5º ano do ensino secundário com idades que variavam em entre os
12 e os 16 anos de idade. Os alunos eram externos e algumas alunas eram
internas.
Recorde-se que sendo Moçambique uma colônia de Portugal,
adotava os currículos da metrópole, pelo que se estudava, por exemplo, a
História de Portugal e não a de Moçambique. Para os leitores menos
familiarizados com a História de Portugal e para que possam entender o relato
verídico que iremos apresentar, importa descrever um episódio famoso que
constava e consta até hoje nos livros de História de Portugal e que nenhum aluno
desconhecia. Trata-se do chamado “Milagre das Rosas” ocorrido no século XIII.
A personagem
central é a Rainha Santa Isabel, casada com o rei D. Dinis. Isabel de Aragão foi uma infanta
aragonesa e, de 1282 até 1325, rainha consorte. Ficou para a história com
a fama de santa, tendo sido beatificada e, posteriormente, canonizada.
Ficou popularmente conhecida como Rainha
Santa Isabel ou, simplesmente, a Rainha Santa.
Segundo a lenda portuguesa, a rainha saiu do
Castelo do Sabugal numa manhã de inverno para
distribuir pães aos mais
desfavorecidos. Surpreendida pelo soberano, que lhe inquiriu onde ia e o que
levava no regaço, a rainha teria exclamado: São rosas, Senhor!
Desconfiado, o rei inquiriu: Rosas,
em Janeiro? A rainha expôs então o conteúdo do regaço do seu vestido e nele
havia rosas, ao invés dos pães que ocultara. Portanto, estava-se em face de um
milagre, o “Milagre das Rosas”, como ficou até hoje inscrito nos livros de
História de Portugal.
Turmas do 4º e 5º
ano onde está o “artista” do episódio aqui relatado. Não indicarei o lugar onde
ele se encontra nesta foto. Apenas os alunos e alunas do Colégio que o conhecem
saberão identifica-lo. O autor deste texto está um pouco atrás do lado direito
do aluno com blusa de frio com um V desenhado.
O relato do episódio
E agora o
episódio humorístico, razão de ser deste escrito.
Numa turma do 4º do ensino secundário (cerca de metade dos alunos estão
na foto acima), os alunos com 14 a 16 anos de
idade tinham, entre várias malandragens tão habituais nesta irreverente faixa
etária, combinado o seguinte: o aluno da turma que tivesse a nota mais baixa na prova de qualquer disciplina teria que ir roubar tangerinas no quintal do colégio para distribuir pelos
restantes alunos externos da turma. Aconteceu que numa prova de Matemática o Chiquinho
Resende (nome fictício, pois não foi possível contatar com o autor do episódio,
para ver se autorizaria usar o seu nome) tirou a nota mais baixa. Conforme o
combinado coube-lhe a tarefa de ir roubar as tangerinas. Na época usavam-se as
camisas por fora das calças, pelo que era na própria camisa, isto é, na concavidade
formada pela camisa que se suspendia (uma espécie de regaço) que se colocava o fruto do roubo, neste caso, as tangerinas. No
intervalo de uma das aulas lá vai então nosso “herói” lançado na aventura,
enquanto no pátio externo ao edifício, a turma ficava aguardando, em ansiosa
expectativa, a chegada das saborosas tangerinas que fechariam, com chave de ouro,
o lanche que cada um tinha trazido de casa. Afoito, Chiquinho procurou perscrutar
cuidadosamente todo o ambiente circundante ao edifício e ao próprio quintal onde
iria ocorrer a operação, para que nada de inesperado pudesse acontecer. E
assim, de forma cautelosa alcançou a tangerineira mais carregada de fruta. Subiu
pelo tronco e a meio da árvore empoleirou-se, começando a depositar as
tangerinas no regaço da camisa. Quando já estava na reta final do roubo, eis
que o inesperado aconteceu. Numa janela do 1º andar do edifício, uma aluna viu
que o Chiquinho estava empoleirado na tangerineira procedendo ao saque. A aluna
empreendeu então um festival de repetidos gritos de “Madre Superiora, o Chiquinho está
a roubar tangerinas!” que obrigou o
nosso “herói” a lançar-se perigosamente da tangerineira e correr feito louco com
o produto do roubo escondido na camisa. No percurso ele teve que enveredar por
um corredor interno do Colégio, mas ao virar de uma esquina eis que, surpreendentemente, lhe surge a Madre Superiora acompanhada de duas alunas.
Respirando de forma ofegante e segurando a “grávida” camisa, seu aspecto causou,
de imediato, uma enorme estranheza.
A Madre, com ar
austero, pergunta ao Chiquinho:
- O que levas aí?
- São rosas, responde, de imediato, o Chiquinho.
- Mostra lá, exige a Madre com voz firme.
O Chiquinho abre
a camisa, olha para o fruto do roubo e então sua face se transfigura mostrando o
ar mais espantado que um ser humano possa revelar. E, em segundos, ele dispara
a resposta, uma verdadeira “bomba” que já se tornou lendária, não apenas para os
que foram colegas do Chiquinho, mas para todos os alunos do Colégio de várias
“gerações”:
- Ohooooooo o milagre não se deu!!!!!!!!
Passaram-se mais
de cinquenta anos desde que aconteceu este episódio, mas quero acreditar que a
Madre Superiora e as duas alunas que a acompanhavam estão, até hoje,
petrificadas e com a boca espantosamente aberta perante tamanha desfaçatez e
rapidez de raciocínio de que deu provas o Chiquinho!
1 comentários:
ZÉ
IT´S NOW AND FOREVER UNFORGOTABLE HISTORY !
ABRAÇO
LAXMIPRASAD
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