domingo, 27 de abril de 2014

DOCUMENTÁRIO "Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás"

O documentário “Atlântico negro: na rota dos orixás” (54 min, 1998) do diretor brasileiro Renato Barbieri foi filmado no Maranhão, na Bahia e no Benin (país situado na costa ocidental da África) revela as afinidades culturais e históricas existentes entre Brasil e África, sobretudo no campo das religiões dos vodus e dos orixás. Renato Barbieri registra, com rara sensibilidade, a africanidade ancestral presente em terreiros de Salvador, que virou candomblé, e do Maranhão, onde a mesma influência gerou o Tambor de Minas. Mostra-nos as danças sagradas e rituais de orixás nos antigos reinos iorubás de Keto e jejes de Abomey. O documentário faz também referências ao que era a África antes da chegada dos portugueses. Se se quiser comparar os Reinos africanos do Benin, Congo, Monomutapa, entre outros, com a civilização europeia da época, constata-se um nível civilizacional bastante avançado em termos de organização política, de sistemas de produção, de arte e de arquitetura. O trabalho de Barbieri aborda, de forma didática, a problemática da escravatura, através de entrevistas, de mapas que nos mostram as rotas e os principais lugares da África (Daomé - atual Benin, o Senegal, a Nigéria, o Congo, Angola e Moçambique) donde vieram escravos para o Brasil. Com clareza, são-nos revelados os fatos que propiciaram o tráfico: as guerras entre reinos africanos. Posteriormente, os traficantes utilizavam os escravos como mão-de-obra barata num dos mais gigantescos e terríveis episódios de violência cometidos contra seres humanos. Os dados estatísticos relativos ao tráfico de escravos bem como os mecanismos de violência física e simbólica utilizados contra eles são espantosos. Tais dados revelam que esse comércio durou cerca de 350 anos, tendo quatro milhões de negros vindo para o Brasil (muitos foram para Cuba, Venezuela e Caribe). O que não se deve esquecer é que nos porões dos navios não vinha apenas força-de-trabalho, mas costumes, tradições, visões de mundo. Não menos surpreendente, eram os mecanismos utilizados pelos traficantes visando destruir toda uma cultura. Com efeito, os negros eram obrigados a percorrer 5 km até ao porto de embarque. Em seguida, os homens eram obrigados a dar nove voltas e as mulheres sete voltas em torno da Árvore do Esquecimento, para ficarem sem capacidade de reagir, de se rebelar para, em suma, esquecerem a sua cultura. Como se fosse possível tal destruição cultural! Um fato curioso revelado no documentário é o que diz respeito à maior fortuna da época no mundo, que pertencia a um traficante de escravos baiano, Francisco Félix de Souza, mais conhecido por Xáxá. O documentário de Renato Barbieri revela-nos ainda que a África manifesta-se na consciência brasileira através da religiosidade, nas cores, nas gestualidades, na forma de falar a língua portuguesa, nas danças, nas comidas.
José de Sousa Miguel Lopes

Para ver o documentário de Renato Barbieri clique aqui

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