DOCUMENTÁRIO "Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás"
O documentário
“Atlântico negro: na rota dos orixás” (54 min, 1998) do diretor brasileiro
Renato Barbieri foi filmado no Maranhão, na Bahia e no Benin (país situado na
costa ocidental da África) revela as afinidades culturais e históricas
existentes entre Brasil e África, sobretudo no campo das religiões dos vodus
e dos orixás. Renato Barbieri registra, com rara sensibilidade, a
africanidade ancestral presente em terreiros de Salvador, que virou candomblé, e
do Maranhão, onde a mesma influência gerou o Tambor de Minas. Mostra-nos as
danças sagradas e rituais de orixás nos antigos reinos iorubás de Keto e
jejes de Abomey. O documentário faz também referências ao que era a
África antes da chegada dos portugueses. Se se quiser comparar os Reinos
africanos do Benin, Congo, Monomutapa, entre outros, com a civilização europeia
da época, constata-se um nível civilizacional bastante avançado em termos de
organização política, de sistemas de produção, de arte e de arquitetura. O
trabalho de Barbieri aborda, de forma didática, a problemática da escravatura,
através de entrevistas, de mapas que nos mostram as rotas e os principais
lugares da África (Daomé - atual Benin, o Senegal, a Nigéria, o Congo, Angola e
Moçambique) donde vieram escravos para o Brasil. Com clareza, são-nos revelados
os fatos que propiciaram o tráfico: as guerras entre reinos africanos.
Posteriormente, os traficantes utilizavam os escravos como mão-de-obra barata
num dos mais gigantescos e terríveis episódios de violência cometidos contra
seres humanos. Os dados estatísticos relativos ao tráfico de escravos bem como
os mecanismos de violência física e simbólica utilizados contra eles são
espantosos. Tais dados revelam que esse comércio durou cerca de 350 anos, tendo
quatro milhões de negros vindo para o Brasil (muitos foram para Cuba, Venezuela
e Caribe). O que não se deve esquecer é que nos porões dos navios não vinha
apenas força-de-trabalho, mas costumes, tradições, visões de mundo. Não menos
surpreendente, eram os mecanismos utilizados pelos traficantes visando destruir
toda uma cultura. Com efeito, os negros eram obrigados a percorrer 5 km até ao
porto de embarque. Em seguida, os homens eram obrigados a dar nove voltas e as
mulheres sete voltas em torno da Árvore do Esquecimento, para ficarem
sem capacidade de reagir, de se rebelar para, em suma, esquecerem a sua
cultura. Como se fosse possível tal destruição cultural! Um fato curioso
revelado no documentário é o que diz respeito à maior fortuna da época no
mundo, que pertencia a um traficante de escravos baiano, Francisco Félix de
Souza, mais conhecido por Xáxá. O documentário de Renato Barbieri revela-nos
ainda que a África manifesta-se na consciência brasileira através da religiosidade,
nas cores, nas gestualidades, na forma de falar a língua portuguesa, nas
danças, nas comidas.
José de Sousa Miguel Lopes
Para ver o
documentário de Renato Barbieri clique aqui
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