quarta-feira, 5 de março de 2014

Zambra: delicado e consistente

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A forma como a literatura toca a realidade profunda que vivemos nem sempre é direta e incisiva. Um poema ou um romance podem traduzir o âmago do que experienciamos em determinado momento da história de maneira oblíqua, com sutis convites de fuga à fantasia, com delicadas escapadas do real dito imediato. Às vezes, o sentido profundamente histórico ou político de um texto está, em chave dialética, no modo especial como ele constrói literariamente um espaço à parte, cujas leis exigem do leitor um comprometimento irrestrito com diretrizes logicamente inusitadas, num poético pacto com a evasão. Estabelece-se dentro do texto uma nova proposta de tempo. Nesses casos, será lá onde o real parece ser algo distante, apenas sonhado ou apenas fato de linguagem que o mundo, em sua verdade estrutural, se nos apresentará como presença incontestável e essencial. A natureza política do belo artístico, assim, reside no fato de que ele é ordenação das formas pelo trabalho da sensibilidade humana; é ocupação do sensível com uma voz que carrega as marcas basais de uma subjetividade em movimento expansivo em direção ao outro; é simbolização de travejamentos da experiência coletiva que de outra forma talvez não restariam perceptíveis ou inteligíveis aos membros da comunidade. Na palavra estética, portanto, vivem desejos, frustrações, anseios, realizações, mesmo que deles não se noticie nada em termos diretos. Em sentido amplo: a forma é história; a estética é política.
Para ler o texto completo de Alexandre Pilati clique aqui

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