quarta-feira, 27 de setembro de 2023

"Esquinas" - Agnès Agboton


 


Esquinas




I


Esquinas mijadas pelos cães


assassinam o nosso sangue;


sobem sórdidos fedores


— enchem a tarde —



 

E essa tristeza impotente


de cemitério; este silêncio


que canta hinos de morte;


estas palavras inúteis


agarram-se à garganta,


embotam o brilho dos olhos,


colocam freios às mãos.



 

— Ai, o nosso sangue


cada dia


menos sangue! —



II


O cinzento pó das ruas


assassina o nosso sangue


e eu escuto o seu frio latir

 

à margem da tarde.



 

Pesa-me o ar submisso


daquele cavalo castrado,


doem os olhos vencidos,


aqueles braços escravos


que de repente serão os meus,


queimam as mortas figuras


de gritos crucificados.



 

— Ai o nosso sangue,


marido,


ai o nosso sangue! —



 

Agnès Agboton


(Benim, 1960 - )


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