ELIANE BRUM: A lama
Como não pensar, a cada dia,
que a lama avança. Essa lama tóxica que mata gente, mata bicho, mata planta,
mata histórias. Essa lama que engoliu um povoado chamado Bento Rodrigues, assassina o Rio Doce, avança pelo oceano,
atravessa os estados e segue avançando. Essa lama que deixou meio milhão sem
água. Essa lama venenosa que vai comendo o mundo como se fosse um organismo
vivo. Essa lama morta que se move. E ao se mover, mata. Enquanto alguém toma um
café, pega o ônibus, reclama do trânsito, faz um selfie, se apaixona, assiste a
uma série do Netflix, se preocupa com as contas, faz sexo, se queixa do chefe,
sente que o cotidiano não está à altura de suas grandes esperanças, briga no Facebook, faz planos para as festas de fim de ano, engole
umas gotas de Rivotril, a lama avança. Enquanto escrevo, a lama avança.
Piscamos, e a lama avança. Parece quase impossível pensar em algo além de que a
lama avança. E ninguém pode afirmar até aonde a lama vai chegar.
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