INDÚSTRIA CULTURAL: Os três imperialismos e 'A hora da estrela' dos povos
1.
Se se considera o romance A hora da estrela (1977) da escritora brasileira Clarice Lispector, seria possível perguntar: quem é a protagonista, Macabéa? Sim, é uma nordestina analfabeta que vive numa cidade letrada, Rio de Janeiro – e letrada porque a escrita é nela e em qualquer cidade do mundo ocidentalizado um referencial onipresente em todos os espaços. Não saber ler e escrever num ambiente urbano é como não conhecer as trilhas de uma floresta densa, cheia de perigos, tornando-se presa fácil de diversas situações, previsíveis e imprevisíveis.
2.
Macabéa, pois, é o outro lado da escrita num contexto em que esta inscreve por sua vez a sua impossibilidade de ser. A escrita, portanto, no romance de Clarice Lispector, é para a protagonista analfabeta, uma ameaça e uma sentença de morte, tornando-a anônima, invisível, impossível. Tendo em vista que o romance narra efetivamente a vida de quem não se escreve porque não está na escrita, o que na obra se coloca sob o ponto de vista estético, é: a literatura é instância do impossível porque deve se voltar contra si mesma (contra a cultura letrada) a fim de se tornar minimamente apta a narrar invisíveis Macabéas.
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