quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

"O amor" - Eugénio de Andrade

 




O amor

 



 

 

 

Estou a amar-te como o frio


corta os lábios.



 

A arrancar a raiz


ao mais diminuto dos rios.



 

A inundar-te de facas,


de saliva esperma lume.



 

Estou a rodear de agulhas


a boca mais vulnerável.



 

A marcar sobre os teus flancos


o itinerário da espuma.



 

Assim é o amor: mortal e navegável.



 

 

Eugénio de Andrade



 

 

 

 

 

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