A poesia como bálsamo espiritual
Em
tempos de isolamento, a poesia não somente pode servir como consolo, mas pode
também nos ensinar uma empatia para nos tirar desta crise. Mesmo que não
estejamos mergulhados numa crise social profunda, a poesia pode ser algo que
nos conduz ao sublime da existência. Diariamente, este blog inicia o conjunto
de postagens com uma poesia. Não é por acaso. É por reconhecermos na poesia toda a
potência lírica que ela carrega e que nos transporta para o indizível e para a
beleza do sublime. Ted Hughes, um dos maiores poetas do século XX, em suas
anotações feitas durante o Festival Internacional de Poesia em 1967 disse: “a
poesia é uma língua universal que todos podemos atingir.” Tal
universalidade se deve ao fato de que a linguagem usada no dia-a-dia é
limitada, só sendo capaz de refletir parte do que queremos expressar. Assim,
ler e produzir poesia nos permite acessar um meio de “linguagem pura”,
como diria o filósofo alemão Walter Benjamin. Portanto, é de se esperar
que em momentos de crise social, como a que vivemos durante o coronavírus, a
poesia surja como uma forma de “bálsamo espiritual”. Mas talvez ninguém tenha
traduzido melhor a importância e a beleza da poesia do que o poeta mexicano Octavio Paz
(1984, p. 15). Caminhemos com ele ao reino do encantamento, ao reino da poesia:
A
poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar
o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício
espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo;
cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem;
regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao
vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo
desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia.
Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de
raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio resolvem-se todos os
conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais
que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento
não-dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar em forma
superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras.
Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Ideia. Loucura,
êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do
limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão,
música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo,
e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal.
Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo,
língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita,
popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada,
escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tem nenhuma:
o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de
toda obra humana!
PAZ,
Octavio. O arco e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
Sim.
Todos os poemas
São de amor
Pela rima,
Pelo ritmo,
Pelo brilho
Ou por alguém,
Alguma coisa
Que passava
Na hora
Em que a vida
Virava palavra.
Alice Ruiz
1 comentários:
Um bálsamo para minha alma!
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