domingo, 6 de agosto de 2017

"Como se fosses um rio ..." - Casimiro de Brito

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Como se fosses um rio e esse rio
ascendesse, amo-te, quero dizer,
entro em tuas terras, eu que nunca
delas saí. Como se fôssemos
as primeiras gotas do primeiro rio
descemos lado a lado, olhamos um para o outro
e sorrimos. Altos e perversos,
às vezes acontece. Bebo-te, embriago-me,
enquanto as montanhas fazem o que sempre
fizeram: curvam-se, complacentes,
sobre quem vai correndo por vales silenciosos.
Vamos com as nuvens, soletramos
os caminhos desta queda
entre a luz e a sombra. Dois rios
lado a lado, trocando águas, memórias,
emoções. O mundo em volta
abre-se: uma casa
que se constrói a si própria
e por isso é vão invocar
o amor a concórdia as festas a doce rotina
de quem, vagaroso, arde. O fogo
deixa-se purificar pelo silêncio
quando nos deitamos na luz que se deita
a nosso lado.


Casimiro de Brito

Poema do livro “Música nua

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