"As mãos do meu pai" - Mario Quintana
As mãos do meu pai
As tuas mãos têm
grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de
manchas já cor de terra
— como são belas
as tuas mãos —
pelo quanto
lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera
dos justos...
Porque há nas tuas
mãos, meu velho pai,
essa beleza que se
chama simplesmente vida.
E, ao entardecer,
quando elas repousam
nos braços da tua
cadeira predileta,
uma luz parece vir
de dentro delas...
Virá dessa chama
que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando
na terrível solidão do mundo,
como quem junta
uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, como os
fizeste arder, fulgir,
com o milagre das
tuas mãos.
E é, ainda, a vida
que transfigura
das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida
— que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um
dia, chamarão de alma...
Mario Quintana
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