domingo, 3 de abril de 2022

"Não há vagas" - Ferreira Gular


 





Não há vagas

 

 

 

 



Não há vagas



O preço do feijão



não cabe no poema. O preço



do arroz



não cabe no poema.



Não cabem no poema o gás



a luz o telefone



a sonegação



do leite



da carne



do açúcar



do pão



O funcionário público



não cabe no poema



com seu salário de fome



sua vida fechada



em arquivos.



Como não cabe no poema



o operário



que esmerila seu dia de aço



e carvão



nas oficinas escuras



- porque o poema, senhores,



está fechado:



"não há vagas"



Só cabe no poema



o homem sem estômago



a mulher de nuvens



a fruta sem preço



O poema, senhores,



não fede



nem cheira

 

 




 

Ferreira Gular

 




 

 

 

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