sexta-feira, 5 de junho de 2020

"Poema Inútil" - Manuel Cintra

Nostalgia | El Manifiesto


Poema Inútil

Claro que não. Nada disto encoraja ninguém.
O silêncio, que às vezes era sinônimo de paz,
aguarda agora outros sons, escondido na violência.

A pessoa que passa na rua pela pessoa, faz por não existir.
Se calhar tinha expressão de linho, e agora está uma estopa.

Os minutos mudaram de sangue. Já não conseguem circular.
As veias parecem cheias de um líquido que o futuro talvez mate.
Há canções,por todo o lado, à beira de morrer.

E perante isso, alguns morrem daquela outra coisa já prevista.
E outros, pela primeira vez, se sentem solidários e com desejos
de loucura, por terem sido sempre tão normais.

Agora a única hipótese é olhar para a prosa como se fosse poesia, olhar para a vida como se fosse música possível
e ainda totalmente por compor.

Muitos pensam no passado. Quando ainda não havia presente.
Quando um beijo não era ainda extra-terrestre.
Quando gritar ainda não chamava a atenção.
Quando a infecção ainda não fazia floreados no chão.

Somos tão frágeis como um beijo por dar, na palma da mão.

Manuel Cintra
(02/04/2020)

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