"Silêncio e palavra" - Thiago de Mello
Silêncio e palavra
A couraça das palavras
protege nosso silêncio
e esconde aquilo que
somos.
Que importa falarmos
tanto
apenas repetiremos.
Ademais, nem são
palavras.
Sons vazios de
mensagem,
são como a fria
mortalha
do cotidiano morto.
Como pássaros
cansados,
que não encontraram
pouso
certamente tombarão.
O tempo madura a
fruta,
turva o fulgor da
esperança.
Na suavidade da treva
urde o resplendor da
rosa.
Mas não ensina a
palavra
de pétalas de
esmeralda
que o homem noturno
espera
florescer da nossa
boca.
Se mãos estranhas
romperem
a veste que nos
esconde,
acharão uma verdade
em forma não
revelável.
(E os homens têm olhos
sujos, não podem ver através)
Chegará quem sabe o
dia
em que a oferenda dos
deuses
dada em forma de
silêncio,
em palavras transformaremos.
E se por ventura a
dermos
ao mundo, tal como a
flor
que se oferta –
humilde luz –,
teremos então cumprido
a missão que é dada ao
poeta.
E como são onda e mar,
seremos homem e
palavra.
Thiago de Mello
Um
autêntico manifesto ético-estético em louvor da vida, bem como um alerta –
cheio de esperanças – na condição humana da palavra face aos horrores do mundo
e o registro do silêncio, por meio de sua ambiguidade.
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