EUA não são país para crianças
EUA não são país para
crianças
Clóvis Rossi*
Excesso de armas só pode levar a excesso
de matanças.
18.fev.2018
Os EUA
–esse formidável ímã para brasileiros e para uma multidão de outros– são,
não obstante, a mais perigosa das nações ricas para uma criança nascer.
É o que informa estudo recente da
publicação Assuntos de Saúde, citado
com amargura por David Leonhardt, o editor da newsletter de Opinião do
"New York Times": É difícil imaginar uma distinção pior para um país.
É óbvio que a mais
recente matança em escola americana, na quarta-feira (14), tornou mais
sinistra ainda a distinção aos EUA. Mas é justo mencionar que esse fenômeno
tipicamente americano é apenas um dos três fatores que levaram os EUA a se
tornarem um país que não é para crianças, a saber:
1 - Os outros países ricos foram mais
bem-sucedidos em reduzir a mortalidade infantil, por motivos que ainda não são
plenamente conhecidos, mas, diz Leonhardt, a desequilibrada rede de proteção
social americana parece ter um papel.
2 - Outros países também reduziram mortes
em acidentes com veículos, que afetam especialmente adolescentes.
3 - Aqui, sim, entra o ritual tipicamente
americano de matança de crianças em santuários do aprendizado, como o definiu
outro colunista do Times, Dan Barry.
Fiquemos no item 3 porque há uma
permanente tentação no Brasil de liberar a posse indiscriminada de armas, ainda
mais agora que um pré-candidato
(Jair Bolsonaro), adepto da tese, está em segundo lugar nas intenções de
voto.
No caso dos Estados Unidos, surpreende
que um país tão ilustrado, sede de universidades e centros de pesquisas de
excelência, não consiga ligar os pontos e entender que a obsessão pelas armas é
uma causa evidente do ritual tipicamente americano de matanças de crianças e,
de quebra, de matanças também de adultos.
Dados que comprovam o caráter americano
do ritual:
1 - homicídios por arma de fogo nos EUA
são em número 49 vezes mais elevado do que outros países ricos, mostra o citado
estudo da Assuntos de Saúde;
2 - Com 5% da população mundial, os EUA
têm 50% das armas de fogo em mãos de civis.
A única variável que pode explicar a alta
taxa de tiroteios em massa na América é o seu astronômico
número de revólveres, escreve Max Fisher, titular de uma coluna que
contextualiza grandes eventos mundiais, sempre no "Times".
Fischer dá números para sustentar seu
contexto: os Estados Unidos têm 270 milhões de armas e tiveram 90 tiroteios em
massa de 1966 a 2012. Nenhum outro país tem mais do que 46 milhões de armas ou
mais de 18 tiroteios em massa.
É evidente que o Brasil tampouco é
exatamente o paraíso para o nascimento de crianças (ou para a vida dos
adultos), como se está vendo
no Rio de Janeiro. Mas a resposta não pode ser a liberação das armas e,
sim, ao contrário, recuperar o monopólio delas para as forças da ordem o que se
pretende fazer com a intervenção federal no Rio.
Suspeito que só dará certo se,
simultaneamente, se começar a discutir a questão das drogas porque a política
simplesmente repressiva fracassou, do que dá prova definitiva a intervenção
no Rio.
*Clóvis Rossi - É repórter especial. Ganhou prêmios Maria
Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano.
FONTE: Aqui
Leia "O que pensam os norte-americanos que têm um arsenal de armas em casa" de Amanda Mars clicando aqui
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