terça-feira, 9 de janeiro de 2018

"entre nascer e morrer, monólogos sobre as peripécias do viver." - Fernando Rios

Resultado de imagem para entre nascer e morrer


entre nascer e morrer,
monólogos sobre
as peripécias do viver.

FERNANDO RIOS

·
MORRER NÃO É O CONTRÁRIO DE VIVER.
O CONTRÁRIO DE MORRER É NASCER.
VIVER NÃO TEM CONTRÁRIO.
Série “Sete Palmos de Terra/Six Feet Under”


I
não importa no que se acredita santos espíritos deuses profetas vênus afrodite buda maomé alan kardec oxumaré shiva tupã: tudo vai mais além viver é muito mais do que dizer amém.
                                                                                         se entretanto todavia contudo viver é um desafio é pé na estrada caminhar de fio a pavio é também um susto de repente de noite de dia de dia de noite entre fechar abrir/abrir fechar o olho uma noite um dia num estalo costumam perpassar o existir que hora é essa? porque viver espreita sempre entre (v)idas e vindas viver não pensa o con trário viver não tem volta é sempre uma eterna ida.
                                        mas e a vida ela que começa de graça já cobra na partida e muito mais durante a corrida seja em gestos de carícia seja a golpes de martelo e como diz jobim ninguém é feliz sozinho há que ser juntos num saco de sal ou num prato de farelo.
                                                                                   viver é assim supersimples (para quem pode) e complexo com freud marx eistein cristo alá meus santos brasileiros são jorge ogum oxalá e o meu preferido oxossi no meu douto ateísmo
                 santos e deuses sozinhos não fazem a festa mas se convidados esquecem bem e mal se aquecem e vão logo em comissão de frente antecipando carnaval mas nem sempre é festival.
                                                                   viver sim custa nada para nascer muito menos amanhecer mas entre manhã e noite viver cobra seu óbulo e pagamos todos nós do nascer do sol ao crepúsculo 
                                                                                   e quem não tem grana se não pode virar bacana aprende nas quebradas uma pura sapiência seja mulher ou homem de casa ou da rua essa arte urbana sertaneja de sol a sol de lua a lua de pés descalços no asfalto ou pendurado na grua ou num trânsito que pesa e jamais flutua.
                                                                                    então viver o que é isso? entra-se meio sem graça estranha-se de graça e por alguma divina graça cai-se numa bela praça ou num precipício paga-se para viver (quem pode e quem é podido) e morre-se sem mais nem menos e fica o quê?
                                       
II

vale a pena uma eterna espera da alforria?
vale apenas um ou dois risos ou sorrisos antes da agonia?
vale qual felicidade em frente ao prato vazio onde a fome escorria?
vale conviver com a falsa justiça que premia a patifaria? 
vale olhar para o lado e sentir o cheiro podre do poder da escória mercenária?
vale fazer tudo certo diante de tanta gente arbitrária?

então é isso é só assim? que história vou contar para quem vier depois de mim? valeu a pena? e fernando pessoa receita “tudo vale a pena se a alma não é pequena...”.
                                                                  sem teto sem casa sem terra sem roupa sem memória sem prazer sem representante no poder enfim  o que dirão os “sem viver”? para onde irão o ódio a indignação o ressentimento deles e nós com isso nós do viver que vivemos do não viver deles?
                        para que viver seja grande é preciso existir é construir a memória presentificar a boa história e saber que o futuro não será sempre ao deus dará
                                                o que se pede é um gesto pequeno ou imenso que transforme a camisa de força do presente numa janela aberta ao por vir porque na pele que se esgarça desenha-se o mapa da sorte leste oeste sul norte precisamos sempre de um ponto cardeal para não cair em movediço areal.
                                                                       e quem pode? quem mora na cidade grande ou no sertão árido febril ou na áfrica eterno barril ou na amazônia verde frota ou no cerrado torto, tosco e seco ou nos polos esquimós ou pinguins ou na europa ou na américa do norte quem tem sorte ou quem tem arte mas e quem vive cada minuto como se fosse cada dia um fogo fátuo de sorte?
                                               
como viver quando bate fome?
como viver quando bate injustiça?
como viver quando a violência (instinto e sobrevivência) no meio da indignação se transforma em crueldade porque esgotou a paciência seja em qualquer idade?
como viver quando bate a chacina essa que compra votos em troca de vidas chamadas de insolentes na porta de hospitais à míngua?
como viver onde não se respeitam corpo e alma?
como viver onde o outro continua à mercê na escravidão?
como viver onde os donos do poder enchem seus bolsos com sangue suor lágrimas de um lumpem resignado que não sabe seus direitos e a cada dia mais entorta seus desejos?


III

viver é muito mais que um é olhar para o lado e abraçar os iguais e os diferentes porque é fora da mesmice que se olha e se caminha para frente
               viver é assim herbívoros carnívoros e nós no meio querendo ser donos do céus criaturas criadores herdeiros de deus
                                                                                           desta lama ao redor preciso posso devo me remodelar refazer minhas humanidades e ajudar a construir tantas gentes quantas quiserem falar gritar existir com seus prazeres amares sentires nunca tortos sempre direitos
                                                                               a cada momento diminuir o tormento transformar a tormenta em brisa calmaria abrandar minha águia em pomba harmonia
                                                      só assim se faz a paz e se pode encontrar um bom porvir só assim multidões caminham bem numa e em várias direções porque não existe apenas uma
                                                                                           tudo é muito simples começa na janela com apenas um dia claro que não é só isso há que continuar pairando em busca de uma boa estrela guia aquela que se faz com a mão aquela que sai do meu corpo coisa de sangue coração porque só meu corpo me põe e me tira do redemoinho vendaval tormenta furac&at ilde;o
                                 

IV                                     

floresta ou deserto água ou areia eu sou minha rosa dos ventos minha bússola meu astrolábio porque viver não tem frestas não se vive de soslaio e nenhuma vida por melhor que seja a música sai como uma cobra do balaio
                                                           viver é assim sem contrário de nascer e morrer
                    bela coisa do presente intensa borbulhante imensa não tem começo meio nem fim
                                                   e esse aqui e agora me joga para dentro de mim e a cada dia tudo acontece fico cheio ou vazio grávido estéril prenhe                                                                    
                mas não sobrevivo sem uma aliança alguém tem que estar comigo numas águas calmas ou num mar bravio homens e mulheres de todos os gêneros esse é o meu desafio
                                                                         então eu cresço me multiplico me saio de mim deixo meu registro mas é no afeto que me regozijo e me pergunto em cada signo: que fiz de mim e do outro? o que deixei que fizeram de mim? como permiti? mas nunca é tarde
                                                                                                        é aqui que o viver se lança e entre nascer e morrer viver intensa mente a esperança de corpo e alma porque ninguém fica para semente mas em se plantando um belo olhar um sorriso um abraço caloroso e amigo no fértil terreno da solidariedade ent&atil de;o tudo de bons frutos e verduras virá

0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP