Alfonsina Storni: "A carícia perdida"
A carícia perdida
Sai-me dos dedos a carícia sem
causa,
Sai-me dos dedos... No vento, ao
passar,
A carícia que vaga sem destino
nem fim,
A carícia perdida, quem a
recolherá?
Posso amar esta noite com
piedade infinita,
Posso amar ao primeiro que
conseguir chegar.
Ninguém chega. Estão sós os
floridos caminhos.
A carícia perdida, andará...
andará...
Se nos olhos te beijarem esta
noite, viajante,
Se estremece os ramos um doce
suspirar,
Se te aperta os dedos uma mão
pequena
Que te toma e te deixa, que te
engana e se vai.
Se não vês essa mão, nem essa
boca que beija,
Se é o ar quem tece a ilusão de
beijar,
Ah, viajante, que tens como o
céu os olhos,
No vento fundida, me
reconhecerás?
Alfonsina Storni
Tradução de Carlos Seabra
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