"Poema de Natal" - Vinícius de Moraes & "Gaza em destroços e lágrimas" - Fernando Rios
Poema de Natal
Para isso fomos feitos
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinícius de Moraes
Gaza em destroços e lágrimas
1.
há uma certa morte
que não pede licença em gaza
e emerge um império do medo
palestinos passam o dia de mãos dadas com ela
e ela quase não dá conta
competindo com caronte
a travessia do aqueronte e do estige
não há moedas que cheguem
para tantos olhos vidrados
para tantos corpos explodidos
expostos por tanta ira
uma vida agônica
escondida, de soslaio
apenas espreita no canto
devidamente amordaçada
se condoendo em dor
(e a torá e o alcorão
pregam infinita paz
imenso amor)
há muito erro nesse horror
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Fernando Rios
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