sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

"Poema de Natal" - Vinícius de Moraes & "Gaza em destroços e lágrimas" - Fernando Rios

 



Poema de Natal



Para isso fomos feitos


Para lembrar e ser lembrados


Para chorar e fazer chorar


Para enterrar os nossos mortos


Por isso temos braços longos para os adeuses


Mãos para colher o que foi dado


Dedos para cavar a terra.



Assim será a nossa vida


Uma tarde sempre a esquecer


Uma estrela a se apagar na treva


Um caminho entre dois túmulos


Por isso precisamos velar


Falar baixo, pisar leve, ver


A noite dormir em silêncio.



Não há muito o que dizer


Uma canção sobre um berço


Um verso, talvez, de amor


Uma prece por quem se vai


Mas que essa hora não esqueça


E por ela os nossos corações


Se deixem, graves e simples.



Pois para isso fomos feitos


Para a esperança no milagre


Para a participação da poesia


Para ver a face da morte


De repente nunca mais esperaremos…


Hoje a noite é jovem; da morte, apenas


Nascemos, imensamente.



Vinícius de Moraes





Gaza em destroços e lágrimas


“Bem que dizem que o contrário da vida não é a morte. É o medo” (Giovana Madalosso, Batida só).
 

1.
 

há uma certa morte



que não pede licença em gaza



 

e emerge um império do medo



 

palestinos passam o dia de mãos dadas com ela



e ela quase não dá conta



competindo com caronte



a travessia do aqueronte e do estige




 

não há moedas que cheguem



para tantos olhos vidrados



para tantos corpos explodidos



expostos por tanta ira




 

uma vida agônica



escondida, de soslaio



apenas espreita no canto



devidamente amordaçada



se condoendo em dor



(e a torá e o alcorão



pregam infinita paz



imenso amor)




 

há muito erro nesse horror



.............................................



Fernando Rios


Para ler o poema completo clique aqui


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