sábado, 4 de fevereiro de 2023

"Recordação" - Emily Bronte


 



Recordação

 

 

 




Frio na terra – e sob tanta neve


Tão longe estás na tumba desolada!


De amar-te esqueci, sequer de leve,


Pelas águas do tempo separada?



 

Quando estou só, minh’alma não responde


Voando aos montes dessa costa do norte.


Nem fecha asas onde o verde esconde


Teu nobre coração dentro da morte?



 

Frio na terra – e quinze invernos foram


Aí, nos pardos montes, Primavera:


Fiel é uma alma que as lembranças douram


Após tanta mudança que sofrera!



 

Ó doce Amor, perdoa, se eu te esqueço.


Ida que vou nesta maré do mundo;


Desejos me distraem, que aborreço,


Mas nenhum deles é que tu mais fundo.



 

Que luz brilhou no meu azul celeste,


Ou nova aurora para mim raiou?


O bem da vida é o bem que tu me deste,


O bem da vida em ti se consumou.



 

Mas quando de áureos sonhos suou o regresso


E já nem Desespero me vencia,


Eu aprendi como o existir tem preço,


E quanto val’viver sem alegria.



 

E as lágrimas sequei do amor inútil –


Calei minh’alma de por ti ansiar,


E dura lhe neguei esse ardor fútil


De em tumba mais que minha me deitar.



 

E enlanguescer não ouso mais agora,


Nem dar-me à dor extasiada de lembrar-te:


Bebi de mais divina angústia outrora –


Em que vazio mundo hei-de encontrar-te?



 

 

 

Emily Bronte


 

 

(Inglaterra, 1818-1848)

 



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