"Soneto do amor difícil" - David Mourão-Ferreira
Soneto do amor difícil
A praia abandonada recomeça
logo
que o mar se vai, a desejá-lo:
é
como o nosso amor, somente embalo
enquanto
não é mais que uma promessa...
Mas
se na praia a onda se espedaça,
há
logo nostalgia duma flor
que
ali devia estar para compor
a
vaga em seu rumor de fim de raça.
Bruscos
e doloridos, refulgimos
no
silêncio de morte que nos tolhe,
como
entre o mar e a praia um longo molhe
de
súbito surgido à flor dos limos.
E
deste amor difícil só nasceu
desencanto
na curva do teu céu.
David
Mourão-Ferreira
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