sábado, 12 de dezembro de 2020

"Desde a Aurora" - Eugénio de Andrade



 


Desde a Aurora


 

Como um sol de polpa escura


para levar à boca,


eis as mãos:


procuram-te desde o chão,


entre os veios do sono


e da memória procuram-te:


à vertigem do ar


abrem as portas:


vai entrar o vento ou o violento


aroma de uma candeia,


e subitamente a ferida


recomeça a sangrar:


é tempo de colher: a noite


iluminou-se bago a bago: vais surgir


para beber de um trago


como um grito contra o muro.




Sou eu, desde a aurora,


eu-a terra-que te procuro.



 

Eugénio de Andrade


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